quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Meus pensamentos politicamente incorretos em axiomas

Por Gutierres Siqueira

“O Brasil não é um país sério”, frase do ex-presidente francês Charles de Gaulle. “O Brasil é o país do futuro”, frase do escritor austríaco Stefan Zweig. O nosso país tem a plena capacidade de transitar entre as duas frases.

Já estão fazendo a campanha: “Vamos acabar com os homens para preservar o meio ambiente”!

Não existe nada mais cafona do que um europeu dançando samba ao lado de uma mulata seminua. Ele deve pensar: “Ah, Brasil, o grande prostíbulo do mundo. Que alegria”!

É patético ver membros da classe média reclamando da violência, enquanto seus filhos consomem a maconha que alimenta o tráfico nas favelas.

Funk é subcultura. Sim, subcultura existe. É aquilo que rebaixa o humano na categoria de animal. No caso do funk, o animal é sexualmente faminto e violento.

O atraso no Brasil é chamado de “progressismo”. Os “progressistas” analisam o mundo segundo os óculos sociais do século XIX. Quem ousa discordar é um reacionário.

Os ultranacionalistas, adeptos do antiamericanismo bocó, querem abolir as palavras inglesas da nossa língua. Por que, então, não abolem as palavras “dama”, “madame”, “moda” que são derivadas do francês? Por que, então, não abolem a palavra italiana “pizza” do nosso vocabulário?

Antigamente, quando um aluno recebia nota fraca, logo recebia uma correção dos pais. Hoje, quando a aluno vai mal, a culpa é do professor. Ainda por cima, o pai vai ameaçar a escola e o docente.

Os pacifistas não suportam a ideia que a guerra pode conduzir para a paz. Talvez eles negociassem com Hitler, e ele se convenceria. Ou não?

Cotas para negros e índios é uma forma de segregação. Quem acredita em cotas, acredita em raças. Ora, raças não existem. Raça é uma invenção dos racistas.

A África precisa de democracia e livre comércio. A África não necessita das lamentações daqueles que tentam justificar a barbárie na luta anti-imperialista.

O capitalismo é um demônio para as tropas esquerdistas. O capitalismo de Estado, braço financeiro do totalitarismo, é louvado e adorado.

O bom senso está em extinção. Quantas vezes ouviremos música alta que não pedimos para ouvir?

Movimento social é outro nome para organizações burocráticas, personalistas, corruptas e de tendências autoritárias. Dizem representar o povo, mas na verdade representam interesses de uma “elite” sanguessuga.

Não vai demorar muito para que os corretores políticos proíbam o Natal para não ofender as outras religiões.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lula e os ditadores

Por Gutierres Siqueira


Leia reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, na edição desse sábado. Comento no final.

Brasil se abstém de votar contra Irã e Coreia

Adriana Carranca

A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou ontem duas resoluções contra a violação de direitos humanos no Irã e na Coreia do Norte. Em ambas, o Brasil se absteve, sob o argumento de dar prioridade ao diálogo e cooperação à pressão sobre os países. Com projeção cada vez maior no exterior e prestes a assumir, em 2010, uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil está na mira dos países democráticos e entidades internacionais.

Eles exigem uma posição mais firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a tortura, prisões arbitrárias, execuções extrajudiciais e a falta de liberdade e Justiça da qual Irã e Coreia do Norte são acusados. "As abstenções são inaceitáveis. Mostram a tendência cada vez mais clara de que o Brasil não quer se posicionar sobre a violação dos direitos humanos em países específicos", diz a coordenadora de relações internacionais da organização Conectas Direitos Humanos, Lucia Nader.

No discurso, o Brasil reconhece as violações, mas prefere levar o debate para o Conselho de Direitos Humanos (CDH). "Temos privilegiado a revisão periódica dos países no CDH", disse ao Estado um a fonte do Itamaraty em Brasília. Esse ano, porém, o Brasil também se absteve de votar em uma resolução do CDH sobre violações na Coreia do Norte.

As acusações contra o Irã referem-se, principalmente, ao período após as eleições presidenciais, em junho, em que o presidente Mahmoud Ahmadinejad conseguiu um segundo mandato. Partidários do reformista Mir-Hossein Mousavi foram às ruas protestar contra possíveis fraudes. O governo respondeu com prisões sem julgamento, perseguição aos meios de comunicação e detenção de funcionários de embaixadas, segundo o texto da resolução a ONU.

O documento cita a condenação de menores de 18 anos à pena de morte e a perseguição de ativistas, jornalistas e advogados como violações permanentes no Irã e refere-se à minoria Baha"i, que teve sete líderes presos entre março e maio de 2008. "Aceitamos a soberania dos países, mas os direitos humanos não podem ser relativizados", diz Flávio Rassekh, representante da fé Baha"i em São Paulo.

A votação de uma terceira resolução, contra Mianmar (ex-Birmânia), prevista para ontem foi adiada. A tendência é a de que o Brasil se abstenha de novo, mantendo seu voto na comissão da ONU onde as resoluções foram aprovadas antes de levadas à Assembleia-Geral. A polêmica política de abstenção do Brasil deu-se em votações anteriores sobre violações de direitos humanos na Bielo-Rússia, Chechênia, China, Congo, Sri Lanka e Sudão.

Comentário:

Os fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) nunca amaram a democracia. Eles a usam para solapá-la. Não é à toa que o presidente Lula e os seus diplomatas apoiam as piores ditaduras do mundo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cenário incompleto tira elegância de retrospectiva de Woody Allen


Por Dalton L. C. de Almeida

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) está encravado no centro velho de São Paulo em um prédio de porte respeitável e de arquitetura híbrida que comporta estilos como rococó, greco-romano, clássico, vitoriano e francês. Durante o fim de semana de 28 e 29 de novembro, a retorpectiva "A Elegância de Woody Allen"contou com um público maior e ingressos mais concorridos, mas durante a semana o Centro Cultural apresentou uma procura média de ingressos e nas tardes dos dias úteis uma lotação parcial da sala de exibição.
Não há do que reclamar na estrutura do CCBB à primeira vista - amplo, bem iluminado e resfriado por um potente sistema de ar condicionado -, o local é um agradável oásis de conforto em meio a uma cidade que nas últimas semanas de novembro e dezembro vem sendo castigada por altas temperaturas e fortes chuvas. O atendimento também agrada: os funcionários são educados e eficientes. Os pontos negativos são os resquícios da desmontagem da última exposição, sujeitando o público a desagradáveis cheiros de tinta nova e uma visão nada artística de plásticos-bolha, fitas e escadas.

Embora os horários de exibição dos filmes da mostra sejam respeitados com rigor (e ninguém entra depois de a sessão começar), no primeiro andar, onde se encontra a sala de projeção, a fila para entrada é organizada em um corredor junto ao vão central do prédio, em que os interessados em bons lugares precisam aguardar de pé, expostos ao mau cheiro da tinta.
As condições do cinema - cadeiras, qualidade de imagem e som, isolamento sonoro e temperatura - são irrepreensíveis e confortáveis, desde que o telespectador não tenha mais de 1m70 de altura, pois o espaçamento entre as fileiras de cadeiras, embora não seja pequeno é com certeza desconfortável para pernas levemente mais longas que a média nacional.
Pouco antes da exibição do filme, em todas as sessões, um funcionário do CCBB, de forma educada e robótica avisa, os presentes a respeito das oficinas sobre Woody Allen organizadas para o mês de dezembro e sobre a possibilidade da troca de cinco ingressos de sessões distintas da mostra por um livro sobre o cineasta. Um brinde de ótima qualidade e bom gosto, por sinal.

Em geral a estrutura do CCBB para exibições é suficiente, deixando apenas a desejar no quesito "extras", sendo que estes poderiam ser desde uma pequena mostra fotográfica a painéis com mais informações a respeito do cineasta.

Importante ressaltar que a estrutura que será apresentada em dezembro com o inicio das oficinas a respeito do cineasta provavelmente será melhor, mas é claramente desagradável ao público a impressão de ir a uma exposição cinematográfica que parece um "tapa buraco" no cronograma do Centro Cultural. Isso pode influenciar negativamente a opinião geral sobre a visita, o que não é justo com a obra cinematográfica de Woody Allen, que em si já conta com variações de complexidade e temática suficientes para dificultar a um público leigo a definição de um posicionamento de apreço ou não.No geral até o momento a retrospectiva se mostra mediana em questões de infraestrutura.

Serviço:

Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo
De 18 de novembro a 13 de dezembro de 2009
Rua Álvares Penteado, 112, Centro Ingresso: R$ 4 e R$ 2 (meia entrada)
Telefone: (11) 3113-3651 / 3113-3652

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mudanças diplomáticas

Por Gutierres Siqueira

Na era do lulismo, a diplomacia brasileira opta pela política Sul-Sul, causando polêmicas diante do enfraquecimento no discurso democrático, e por suas alianças com nações que não respeitam os direitos humanos

Na última segunda-feira, o Brasil recebeu o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sob protestos de judeus, homossexuais, cristãos, feministas e até dos congressistas americanos, tanto democratas como republicanos. A rápida visita selou alianças comerciais e apoio mútuo aos interesses de ambos os presidentes. Luiz Inácio Lula da Silva apoiou o uso pacífico da energia nuclear iraniana, enquanto Mahmoud Ahmadinejad apoiou o interesse do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança do ONU. A visita mostra uma nova faceta da diplomacia adotada no governo Lula, denominada de “política Sul-Sul”, ou seja, aproximação crescente com os interesses de países subdesenvolvidos e emergentes.

Nessa nova postura, o Brasil se afasta da diplomacia americana. Ainda nessa semana, o Brasil entrou em conflito com os Estados Unidos na resolução do impasse em Honduras. O Itamaraty, desde o início, apoiou o presidente deposto Manuel Zelaya, enquanto recusou qualquer negociação com o governo interino de Roberto Micheletti. Hoje, o governo americano defende as eleições como solução do conflito, mesmo sem a restituição de Zelaya. Para o governo brasileiro, alinhado com os vizinhos bolivarianos, é inaceitável a aceitação do pleito em Honduras sem a restituição do ex-presidente. Em entrevista coletiva, nessa terça-feira, o assessor especial para assuntos internacionais da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, chegou a falar em “certa decepção” para com a política externa do presidente Barack Obama. "Todo aquele clima favorável, que se criou com a eleição do presidente Obama, que se fortaleceu na reunião de Trinidad e Tobago (Cúpula das Américas), começa a se desfazer um pouco", disse Garcia.

As falta de sintonia com os Estados Unidos não se restringe a Honduras. Nos últimos meses, o acordo militar entre os Estados Unidos e a Colômbia casou irritação dos governos sul-americanos, especialmente do Equador, Bolívia e Venezuela, de Hugo Chávez. O Brasil cobrou “garantias de não ingerência” dos dois governos. Ao mesmo tempo, a Venezuela comprova armas da Rússia, mas não recebeu reprovação do presidente brasileiro. Diante desse quadro, o senador oposicionista Álvaro Dias (PSDB-PR) escreveu que a política externa brasileira tem adotado “dois pesos e duas medidas” na América Latina: “Causa estranheza a postura adotada pelo presidente Lula: sem pestanejar, questionou o acordo discutido entre Bogotá e Washington, e ao mesmo tempo se omite diante de fatos graves ocorridos no nosso entorno (...) não houve nenhuma manifestação sobre a apreensão, pelas autoridades colombianas, de armas em poder das FARC, artefatos bélicos ven didos pela Suécia ao governo da Venezuela há décadas. Igualmente silenciou sobre o envolvimento financeiro das FARC na campanha presidencial do presidente do Equador, Rafael Correa. Em nenhum momento houve uma condenação das investidas das FARC. A retórica palaciana sempre evitou qualificar o caráter criminoso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”.

Mudanças paradigmáticas

Mesmo elogiada por ter conquistado espaço para o Brasil em alguns dos principais fóruns mundiais, a diplomacia brasileira também tem sido criticada pelo excesso de pragmatismo. A aproximação crescente com os interesses de países subdesenvolvidos e emergentes trouxe certos embaraços para um país que defende a democracia. Em reuniões diversas, o presidente Lula sentou ao lado de ditadores, como no Robert Gabriel Mugabe, ditador desde 1980 no Zimbábue, e Muammar Kadafi, que governa a Líbia desde 1969. Nesse sentido, o Brasil tomou medidas nada alinhadas com a tradição de respeito aos direitos humanos.

Em maio de 2005, o Brasil realizou, pela primeira vez, a cúpula América do Sul-Países Árabes. Nenhum país árabe era ou é democrático. Ao mesmo tempo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou vários países do Oriente Médio, com exceção de Israel, a única democracia da região. Ainda em 2005, o Brasil negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia islâmica radical, que praticou os massacres de Darfur. O Brasil deixou de apoiar o brasileiro Márcio Barbosa, para ratificar a candidatura de Farouk Hosni, ministro da Cultura do Egito, para a diretoria-geral da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Hosni afirmou que queimaria livros hebraicos se os encontrasse na biblioteca de Alexandria.

Muito dessa mudança na política externa é atribuída ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, diplomata de carreira no Itamaraty. Hoje, Guimarães ocupa a cadeira da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Acusado de antiamericano, Guimarães só vê divergências com os americanos: “Os EUA são o país mais importante do mundo. Em todas as questões, a posição americana é muito importante, fundamental. Meio ambiente, comércio, questões militares, políticas. Mas a visão dos EUA às vezes é diferente da do Brasil, isso não tem nada de mais. Agora, em muitas ocasiões do passado, as pessoas julgaram que era conveniente para o Brasil se alinhar com os EUA de uma forma, na minha opinião, excessiva”, disse em entrevista para a revista Carta Capital.

Confusão entre política de Estado e política do partido

Há uma confusão entre políticas de Estado, com políticas de partido. Essa é a opinião do ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero. "O governo está moldando o perfil com o qual quer entrar para a História. A política exterior tornou-se mais identificada ao governo e também a seu partido, o PT. Não está mais identificada ao Estado", afirmou Ricupero ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Para ele, isso explica a guinada esquerdista no Itamaraty. “Se há um ponto na política brasileira que encontrou um consenso de todas as correntes de pensamento, esse ponto é exatamente a política externa levada a efeito pelo Itamaraty (...) Esse consenso não existe mais", completou Ricupero, que hoje preside a Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e o Instituto Fernand Braudel.

Diante da nova visibilidade internacional do Brasil, o país precisa optar por caminhos diplomáticos mais firmes. Para isso, precisa pautar sua política pela democracia e direitos humanos, como sempre fez nesses vintes anos de democratização. Ou seja, é a hora do Brasil buscar a posição que definirá sua política no mundo. Qualquer escolha agora terá influencia por muitos anos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Terceira Via

Por Gutierres Siqueira

Acompanhe o Twitter do Programa Terceira Via. Esse projeto é feito por alunos da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM), que em um estúdio de televisão da faculdade, farão entrevistas políticas.

No primeiro programa contaremos com a presença do vereador José Police Neto (PSDB), líder governista na Câmara Municipal de São Paulo (SP) e também, com a subprefeita Soninha Francine (PPS).

Participe mandando perguntas por meio dos comentários desse blog ou no twitter.

O Terceira Via acontecerá no dia 19/10, às 19h00, na FAPCOM. Infelizmente não aberto para o público.

Não deixe de acompanhar no twitter e depois os vídeos aqui postados.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Jovens inconformados com a mediocridade intelectual do Brasil criam revista cultural

Por Gutierres Siqueira

A revista semestral “Dicta & Contradicta” nasceu em junho de 2008 e já faz sucesso nas livrarias paulistas

Alguns jovens, com formação universitária diversa, resolveram criar um grupo de estudo filosófico. Inconformados com o pequeno espaço de estudo crítico no Brasil,Guilherme Malzoni da Motta Rabello e os seus amigos Henrique Elfes, Joel Pinheiro da Fonseca, Júlio Lemos, Luiz Felipe Estanislau do Amaral, Marcelo Consentino, Marcello Nébias Pilar, Martim Vasques da Cunha, Renato José de Moraes, Rodolfo Britto e Rodrigo Duarte Garcia passaram a se reunir e estudar primeiramente o platonismo. Daí nasceu o Instituto de Formação e Educação (IFE) em 2004. O trabalho cresceu e o grupo formou corpo, sendo que desde junho de 2008, a revista cultura-filosófica “Dicta & Contradicta” é a expressão escrita do grupo.

Guilherme Rabello, engenheiro naval formado pela Politécnica da USP é hoje o presidente do Instituto. O jornalista Martim Vasques responde pela revista. Além de um engenheiro naval e um jornalista, o Instituto conta com formados em direito, economia, administração de empresas e letras. Em comum, o fato de todos serem apaixonados pelo estudo aprofundado da filosofia e cultura ocidental. A idade também chama a atenção, pois todos estão na faixa de idade que varia entre 23 e 33 anos. A única exceção é Henrique Elfes, formado em Letras pela PUC-PR, com a idade de 50 anos.

A revista “Dicta & Contradicta” chama atenção pelo tamanho. Com mais de 200 páginas e com aspecto de livro, apresenta um conteúdo denso, porém sem academicismo. O sucesso da revista pode ser verificada na alta procura na Livraria Cultura, uma das distribuidoras do material. Rabello comemora o sucesso: “Há um ano, quando lançamos o número um, pensávamos em vender algo em torno de 500 exemplares. De cara, vendemos 1.000 nos primeiros meses e esse número está aumentando”.

Hoje a “Dicta & Contradicta” está em sua terceira edição. O quarto exemplar sairá em dezembro. Nesses primeiros números a revista já entrevistou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em uma conversa rara, falou muito de sua vida pessoal e intelectual e menos de opiniões políticas. A Dicta também entrevistou o famoso maestro Roberto Minczuk, regente titular da Orquestra Sinfônica Brasileira. As edições contam com grandes artigos de famosos colunistas, como o cronista português João Pereira Coutinho, o filósofo Luiz Felipe Pondé, o poeta Nelson Ronny Ascher e o filósofo conservador Olavo de Carvalho. Há também textos sobre grandes nomes, com os filósofos e jornalistas culturais Mário Ferreira dos Santos, Eric Voegelin e G. K. Cherteston.

Os jovens não definem a revista segundo ideologias. Para Rabello, sequer há um grande pensador que influencie todos os integrantes da Dicta: “Existem certamente vários interesses comuns, como por exemplo a filosofia que inicialmente nos uniu. Mas o fato é que não há uma linha coerente nas influências”. No Instituto de Formação e Educação, os membros da revista ministram cursos na área filosófica e cultural, como sobre “Literatura na Modernidade” e a “História da Felicidade”. O IFE está totalmente atrelado nos planos da Dicta, Rabello explica: “O grupo surgiu por um interesse em comum por filosofia, mas o que motivou a fundação do IFE e a publicação da Dicta foi à constatação de que havia uma carência no Brasil de instituições voltadas à formação intelectual de alto nível. Nesse sentido, a Dicta é apenas um dos passos de nosso projeto, que está totalmente centrado numa preocupação de longo prazo. Nosso objetivo é mostrar que é possível e economicamente viável criar uma instituição voltada à produção e divulgação de um pensamento sério”.

Depois do sucesso inicial da Dicta, já começou a surgir revistas parecidas no mercado. O Instituto Moreira Salles lançou nesse ano a revista “Serrote”. A “Serrote” também apresenta um conteúdo cultural denso e é em formato de livro, com várias páginas. Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Flávio Pinheiro, responsável pela “Serrote” nega que exista uma imitação da Dicta: “Alimento a ideia de uma revista de ensaios como a ‘Serrote’ há anos. Nessa área ninguém vai inventar a roda. Revistas de ensaio já existiram aqui há décadas e há inúmeros exemplos em diversos países”.

Fato é que o público brasileiro ganhou bastante com o lançamento de revistas culturais, como “Piauí”, “Dicta & Contradicta” e mais recentemente a “Serrote”, que vem preenchendo uma lacuna de jornalismo denso e bem pesquisado, algo não tão comum na cultura tupiniquim. A Dicta vai longe aos seus objetivos, já que por meio de um instituto tem planos educacionais mais amplos: “sentimos a carência de instituições que assumam a tarefa de educar nos valores básicos do ser humano e na grande cultura clássica e humanística. Esta é a lacuna que queremos suprir, não dando uma ‘buzinada’ de um instante, mas de maneira permanente”, diz assim os seus editores.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O ensino de economia no mundo pós-crise

Por Gutierres Siqueira

Como a crise econômica tende a afetar a predominância de teorias econômicas no mundo acadêmico: Uma maior presença keynesiana em detrimento do neoliberalismo

A quebra do Lehman Brothers marcou o início da crise financeira e econômica que abalou o mundo em setembro de 2008. O então quarto maior banco de investimentos especulava com 600 bilhões de ativos financeiros, que eram baseados somente em 15 bilhões de capital próprio. O negociante principal do banco era o Tesouro americano no mercado de ações mobiliárias. Com os prejuízos advindos da crise dos subprimes das hipotecas, a instituição pediu concordata.

A crise das hipotecas começou em 1993. O presidente democrata Bill Clinton, em busca de popularidade e votos do eleitorado negro e hispânico, afrouxou as regras de empréstimos imobiliários voltados às pessoas de baixa renda. Os bancos, como o Lehman Brothers começaram a fazer empréstimos para quem não poderia pagar. Bill Clinton, também, em 1999 revogou a lei Glass-Steagall Act, que proibia bancos comerciais de fazer operações de alto risco, que eram já bem presentes nos bancos de investimento.

No governo republicano de George W. Bush, o déficit americano aumentou bastante para a sustentação de duas frentes militares no Oriente Médio. Além disso, Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (FED, o banco central americano) baixou os juros de 6% em 2001, para 1% em 2003, mantendo-os baixos todos esses anos. Com os juros baixos, os americanos compraram demasiadamente, impulsionando um excepcional crescimento no mundo todo, ao mesmo tempo em que aumentava o nível de endividamento das famílias.

Ou seja, muitos foram os fatores que contribuíram para a crise. Esquerdistas em todo o planeta profetizavam a queda do capitalismo e diziam que a concordada do Lehman Brothers equivalia para a economia de mercado, o que a queda do muro de Berlim simbolizou para a derrocada socialista. Estes mesmos opositores em suas diversas correntes e social-democratas não demoraram em acusar o liberalismo pela grande crise, pois segundo eles a falta de regulação dos mercados é a gênese da anarquia financeira. Os liberais, em contrapartida, acusam como irresponsáveis as intervenções dos governos via Banco Central e os incentivos a compra de casa como elementos decisivos na gravidade dessa crise.

Os governos reagiram à crise invocando o economista John Maynard Keynes. Com os Estados Unidos a frente, impulsionando a locomotiva do keynesianismo, a economia mundial passou a receber mais investimentos estatais em infraestrutura, entre outros gastos não permanentes. Europa, China e outros emergentes seguiram a linhas dos investimentos estatais. O Brasil também invocou Keynes, mas aproveitou para aumentar os gastos permanentes, como o aumento do funcionalismo público.

A teoria econômica que mostrou mais força no mundo pós-crise certamente é o keynesianismo. Até mesmo a Universidade da Califórnia, berço de neoliberalismo de Milton Friedman começou recentemente a promover debates sobre a crise econômica, abordando várias teorias. Alguns economistas keynesianos, como Joseph E. Stiglitz ganharam mais espaço no noticiário e nas faculdades. Para Paul Krugman, economista ganhador do Prêmio Nobel de 2008 e articulista do jornal The New York Times, Keynes ganhou maior importância: “Keynes é ainda mais importante agora do que o foi há 50 anos. Não sei se os economistas, em geral, se tornarão keynesianos de novo, mas passei a levar muito a sério as questões de tipo keynesiano, se assim se pode dizer. É claro que Lord Keynes não era um profeta sagrado. Ele pode ter colocado as perguntas certas, mas cabe a você, sempre, ter de encontrar as suas próprias respostas”.

Há quem não considere a existência de um novo paradigma econômico nas universidades. Para o professor Vinícius Carrasco, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), “só uma há teoria econômica, aquele que é ensinada em todas as escolas de economia do mundo”. O professor Luis Henrique Braido, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), o importante é consolidar o que já vem sendo ensinado, pois a economia é uma ciência baseado no método científico: “A abordagem desses temas baseia-se no método científico, que enaltece a dedução lógica formal e o confronto de suas conclusões com fatos observáveis. A utilização desse método permitiu à civilização ocidental alcançar notável progresso tecnológico nos últimos séculos”.

O complexo de luta contra o neoliberalismo

Algumas escolas de economia, como a Universidade de Bolonha (Espanha) estão mudando o seu currículo, pois acreditam que a economia neoclássica influencia negativamente no comportamento especulativo irresponsável, criando a gênese de bolhas e novas crises. Para os professores portugueses Fernando Alexandre e Pedro Bação, isso é um exagero, pois mudanças drásticas no currículo são fruto de um pensamento equivocado, que mostra universidade acreditando em alunos “tábuas rasas”, que absorveriam de modo acrítico o ensino: “esta visão tem na sua origem a ideia de que o ensino superior tem a capacidade de criar ‘homens novos’ com as características desejadas pelos seus criadores, desde que estes lhes ensinem os comportamentos corretos. Pensamos que a história recente já contrariou de forma clara a hipótese de que é possível controlar a natureza humana pela educação”. Portanto, segundo esse teóricos, não é necessário o abandono do ensino liberal nas universidades, pois ele não é culpado pela crise.

Para o historiador britânico Tony Judt, em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, o neoliberalismo perderá espaço e acabará a sua hegemonia. Acusado de fomentador da crise econômica, a economia ortodoxa verá mais defensores de intervenção estatal: “Creio que, nos próximos dez anos, veremos uma renovação das discussões de políticas públicas que aceitam descrever temas sociais e iniciativas de governo sob perspectivas mais amplas, mais éticas ou políticas, se quiser. O que acontece agora nos EUA, o debate sobre o sistema de saúde, talvez seja uma das últimas consequências da onda economicista”.

Apesar dessa possível derrocado do neoliberalismo, o sociólogo sueco Göran Therborn não acredita em uma resposta antiliberal: “A crise significa a morte do neoliberalismo, como a crise dos anos 30 foi a morte do liberalismo, mas isso não significa que ele não possa ressuscitar. Até agora, não há alternativa abrangente”. Enquanto isso, o economista da Universidade da Califórnia, Gary Becker, acredita que o mundo pós-crise ainda será liberal: “Os princípios fundamentais da liberdade de mercado, que foi o que trouxe a cultura ocidental até este estágio de desenvolvimento, vão permanecer inabaláveis”.

Fato é que as faculdades de economia continuarão em suas tendências, sejam elas mais liberalizantes ou estatizantes. A crise econômica provocou maiores debates, mas sem necessariamente mudanças estruturais nos cursos acadêmicos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

É assim tão grande o sacrifício?


Por Dalton L. C. de Almeida


“A raça humana está prestes a ser extinta. Restam-nos 50 mil pessoas, e só. Agora, se nós vamos sobreviver como espécie. Precisamos sair logo daqui e começar a ter bebês".


Está foi a frase da recém empossada presidente Roslim, a mais nova executiva da imensa civilização dos Coloniais, outrora dona de 12 planetas (colônias) e composta de bilhões de eleitores, repentinamente mortos ou morrendo sobre um pesado e eficiente ataque nuclear inimigo, que de uma vez só, em apenas algumas horas, apresentou à humanidade o extermínio como única saída, além é claro, da fuga.

Esta triste fala (tremendamente) bem interpretada, é apenas uma parte dos muitos outros problemas que seriam enfrentados pelos coloniais na mini-série Battlestar Galactica (2004 - posteriormente estendida em mais quatro temporadas), agora reduzidos a um povo sem casa, espremido em um punhado de naves e sem condições mínimas de sobreviver, quem dirá, trazer com conforto e segurança ao “mundo”, delicados e rechonchudos rebentos.
Em situação pior encontravam-se os personagens de “Filhos da Esperança” (2006), que gozavam da experiência de viver em um mundo ensandecido pela própria falta de expectativa, onde a inexplicável infertilidade de todas as mulheres do planeta congelou as perspectivas de futuro da humanidade e gradualmente destruiu o que chamamos de civilização. Mas resta uma esperança... assista ao filme!


E o que 50 mil almas enlatadas no espaço têm haver com milhões de almas presas em um planeta azul de nome Terra, coberto por seres humanos estéreis e que aguardam “pacientemente” o ocaso da humanidade se aproximar, minuto a minuto, nos dentes polidos e impiedosos do tempo?

A necessidade de bebês! Óbvio (sequer tentei esconder isso de você caro leitor)
E o que estes quadros desagradáveis têm haver com nosso tempo? Em época de países super povoados, campanhas de controle de natalidade e da moda do filho único?

Tudo!E a Folha de S. Paulo de ontem (6/09/2009), em sua matéria “
Brasil fez em décadas o que a Europa levou séculos para fazer” arranha a superfície de um problema, já há muito entre nós, e do qual gostaria de tratar brevemente.

A notícia cita o mais novo dado de natalidade por mulher no Brasil, que alcançou a média de 2,1 e também explicita o impacto disso, ao explicar com didática o Modelo de Transição Demográfica (MTD), proposto em 1929 por Warren Thompson, e que prevê com desagradável precisão as “fases” das dinâmicas de crescimento populacional em um país, quando diretamente relacionadas com seu status econômico.

De qualquer forma o que interessa é que o Brasil se igualou a Europa. Bom não é?
Agora só falta que nos igualemos a todo o amplo espectro de assuntos que fazem da Europa um local invejável. Seja nos âmbitos culturais, tecnológicos e sociais, pois no aspecto da falta de visão de futuro ancorada na mais simples, embora não menos importante unidade social, a família, eles optaram por falhar estupidamente. E condenar seu próprio futuro... ou melhor... o nosso também, pois cegamente seguimos o exemplo. Então, se é para desaparecermos, precisamos a partir de agora nos esforçar, para deixar vestígios arqueológicos exemplares, afinal os atuais são uma verdadeira vergonha.

Entendeu? Não? Pois então continue...

A Folha de S. Paulo, informa que nos encontramos na fase 3, configurada basicamente pela redução nas taxas de fecundidade, explicadas por diversos fatores, em especial pela urbanização, que retira a utilidade prática de crianças no dia a dia, pois não são mais úteis para trabalhos como carregar lenha e água para a família e nem como salvaguardas na velhice, visto que os pais têm acesso a sistemas de previdência. De forma que alimentar, vestir, cuidar, educar entre outros muitos e nada baratos gastos, torna-se um investimento nem um pouco atrativo.

Até este ponto a Folha foi muito política e avançou a explicação ao próximo passo/fase brindando o leitor com a perspectiva nada animadora de um cenário onde a população não só para de crescer, como começa a diminuir, ceifada pelo tempo, e o país é “invadido”, pela mão de obra importada, vulgo imigrantes, que causam uma série de problemas sociais, o mais famoso deles a xenofobia, por parte da velharada encarquilhada e desdentada que ainda vivente e da juventude inexpressiva e irrelevante para a manutenção de uma população “pura” e “original” de locais.

O que faltou a Folha? Simples. Dar uma solução ao problema. E por que não o fez? Também simples. Vai contra a dinâmica atual de mundo, que prega o “EU, Eu mesmo e Eu ainda mais porque a Irene custa!”

A verdade é que o egoísmo e falta de bom senso social em escala individual, está levando o Brasil e todo o Ocidente a um erro que a andropausa, menopausa e envelhecimento dos óvulos femininos com a idade, tornarão impossível de corrigir na última hora. O ocidente está cometendo, no pior de sua tradição, um auto-holocausto.

No passado tinham-se muitos filhos por suas utilidades na vida diária, seja no campo, seja nas cidades (ainda não muito urbanizadas) e porque a morte de crianças era algo comum. Ou seja, se garantia na quantidade de filhos a força de trabalho e a seguridade da velhice em um intuitivo jogo contra as probabilidades.

Com a urbanização, avanços da tecnologia, saúde e a elevação do “EU em prazer” ao pedestal do sacrossanto objetivo da vida ocidental, os filhos tornaram-se adornos ou simplesmente o componente final de uma longa lista de requisitos que variam desde objetivos profissionais femininos e masculinos, concentração de riqueza e bens, até o aproveitamento de prazeres que responsabilidades como as crianças, tornariam um risco elevado demais. (pára-quedismo esporadicamente ou não, é um exemplo).

Como último detalhe de uma longa tabela de realizações pessoais, estes “objetivos” de alto custo, tendem a ser incorporados a dinâmica familiar da forma menos impactante possível. Em miúdos, no menor nível possível, sendo zero um número válido. E que não obrigue os pais a uma redução de seu nível de conforto tão merecidamente conquistado.

Assim quando adicionadas ao núcleo familiar, tal criança, quando em lares com posses em grau significativo, tende há ter seu tempo e sua vida inundados com tudo do “bom e do melhor”.
Obviamente que podemos analisar a super fartura de opções ao(s) rebento(s) por dois ângulos distintos e que não são excludentes. Os altos gastos são a forma de providenciar a melhor educação, conforto e qualidade possíveis para um futuro e produtivo membro da sociedade e também podem ser, ao mesmo tempo ou não, a nova vitrine de ostentação, pois ter dois “carros do ano” iguais para mostrar para os amigos é idiotice,então, porque não declamar por minutos a fio toda a miríade de investimentos culturais, esportivos, técnicos e supérfluos dados ao filhote?

E ai está o ponto crucial do suicídio social do ocidente. A pequena quantidade de filhos. Principalmente nas famílias mais abastadas.

Em resumo, não é necessário ser o “Ás” da matemática para chegar ao cálculo de que se cada dois seres humanos, que formam um casal, produzem apenas um filho. A quantidade de pessoas a ter que bancar o sistema de um país através de impostos e trabalho no futuro, cai pela metade. Se tiverem dois filhos, praticamente a média máxima (e que obviamente não corresponde necessariamente as famílias de maior renda), a população jovem ficará em paridade temporária com a população economicamente ativa. E assim só continuará se todos os velhos atuais caírem mortos, antes que seus pais, tornem-se os próximos responsáveis por pressionar os sistemas de saúde e previdência.

O futuro do ocidente europeu, se delineou há muito tempo, e o europeu preferiu viver a vida dele, dar do melhor a seus filhos únicos e dar de ombros com a perspectiva de que seu filho teria de trabalhar muito mais que ele para manter a máquina de seu país funcionando. Tudo isso, claro, para que ele pudesse desfrutar do máximo que a vida pode lhe dar de prazer e seu filho pudesse ter o máximo que ele pode dar.

O futuro do Brasil seguirá o mesmo rumo, mas ele será pior, pois nossa infra-estrutura previdenciária é menos forte,nosso mais é mais corrupto e nossas diferenças sociais mais profundas.

Hoje a Europa envelhece e paulatinamente é substituída por populações de países pobres e que não tem a preocupação doentia pelo prazer e pelo melhor. E sim que não fazem controle de natalidade por motivos culturais ou porque preferem ter muitos filhos a apenas um “supermimado”.

O brasileiro hoje, em especial com condições, deveria pensar de forma menos egoísta e simplista, tendo tantos filhos quanto suas condições econômicas permitem, dando-lhes uma educação descente e digna, saúde, diversão de qualidade e tudo sem desperdício. Pois uma criança não precisa do último "Max Steel Cromado com LED e que grita” para ter um desenvolvimento cognitivo positivo. Precisa é de pais que estejam minimante presentes, amigos, jogos educativos e brinquedos dos mais simples e baratos. Tornando-se na maturidade, junto a seus muitos irmãos, o produtivo ser humano que a sociedade tanto precisa e que irá garantir seu progresso.

Infelizmente na sanha de dar “do melhor” aos rebentos, por motivos muitas vezes dúbios, o ocidental esquece que sua história como civilização não foi montada baseada sempre na obtenção máxima de prazer pessoal, e sim, na maioria das vezes, baseada na doação a comunidade e ao futuro dela. Filhos educados e saudáveis são o futuro de um país e a manutenção de uma herança de gerações, que muitas vezes optaram por não "viajar a passeio" para que os filhos pudessem estudar e que não tinham como valor, não ter filhos, interrompendo suas “dinastias” apenas para portar e ostentar coisas como uma foto no Orkut, como prova de ter ido a algum ponto turístico de alcance monetariamente dispendioso.
Basicamente, o futuro e sua manutenção se dará pela lógica em desuso, do sacrifício em nível pessoal, que hoje nem é assim tão doloroso , visando o bem da maioria, pelo simples ato de "doação" de bons e muitos filhos a sociedade. E quem sabe, daqui 60 ou 70 anos, posamos dar do “bom e do melhor” para não um, mas para tantos filhos quantos a nação tiver, sem prejuízo ao seu presente e a seu futuro. Alcançando o vitorioso patamar que os Europeus chegaram tão perto e que os "Coloniais" e a "humanidade estéril" das obras de ficção citadas sequer tem perspectivas de alcançar.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Os malditos vícios

Por: Dalton L. C. de Almeida

Se há uma coisa que o cérebro humano é eficiente em criar como subproduto de toda a sua, até o momento, quase incomensurável complexidade e que desafia diariamente milhares e milhares de cientistas por todo o mundo a entender seus processos bioelétricos em lóbulos, áreas, zonas, campos e reentrâncias, são os vícios.
A diversidade de vícios é também mais surpreendente do que a maioria pode imaginar. Existindo vícios em álcool, tabaco, glicose (leia-se doces), massas, substâncias ilegais como heroína, crack, maconha, ecstasy, lança-perfume, cocaína entre outros.
A sociedade indubitavelmente tem uma parcela de culpa e responsabilidade para com os viciados.
Nos jovens drogados pela sua falta de pulso, inapetência educacional, oferecimento de um ambiente libertino e/ou de afeto e religiosidade duvidosos, quando não apenas ausentes ou equivocados.
No caso do obesos, salvo vítimas de deficiências metabólicas congênitas ou hereditárias, pela permissividade de sua legislação e acrítica frente as empresas produtoras de “alimento”, que conscientemente ou não, transformaram o ato de se alimentar no “Éden eterno” de prazer e realização em um mundo estressante, individualista e demasiadamente dinâmico. Onde impera o fast-food, os biscoitos de chocolate entupidos de gordura hidrogenada, salgadinhos hiper-calóricos repletos de sal e conservantes. Entre outras maravilhas ao palato que transitam de gelados milk shakes as quentes e suculentas frituras e pedaços de picanha na brasa.
Também existem os alcoólatras e fumantes, vitimados pela sua falta de bom senso e/ou espírito crítico e/ou tendências biológicas entre outros, que se deixaram viciar em drogas legalizadas ao se levarem pela propaganda de empresas e do boca-a-boca, trocando seu dinheiro e qualidade de vida, pelo status estúpido de dependente de um produto que além de um prazer rápido, só lhe trará na melhor das hipóteses prejuízo financeiro e na pior, uma imensa lista de mágoas, sofrimentos, danos e arrependimentos.
Mas além dos vícios aparentes nos quilos extras, overdoses acidentais e vexames sociais, existe um cepa obscura, aparentemente inócua e que se desenvolve na calada da noite, nos agarrando sem que percebamos e muitas vezes causando danos terríveis. Estes são os vícios intelectuais.
Se compreender o funcionamento do cérebro e seu sistema de recompensa já é difícil, em questões de vícios em substâncias com potencial psicoativo, que bem ou mal nos proporcionam prazer físico, como será que se explica um vício intelectual?
Bom, existe uma grande diversidade deles. Sendo os mais famosos e também hilários:
- A síndrome de “São Tomé” – Uma tendência patológica de desconfiança em tudo e em todos, que quando moderada é importante para policiais, juízes e jornalistas, mas que se torna danosa ao alcançar picos de exagero, quando frente a provas, teorias embasadas, cálculos matemáticos e apresentação de evidências. Resume tudo a “intrigas da oposição”, “conspirações” e ou em casos extremos, a ação efetiva do Demônio ou de homenzinhos verdes.

- A síndrome do “Ducontra” – Uma tendência mais irritante do que patológica, em que o individuo discorda de absolutamente todas as defesas que ouve a respeito dos mais diversos assuntos, crente de que conhece respostas para tudo, na maioria assustadora das vezes baseando se só e puramente em achismos profundos como uma poça, que jamais caem ou secam, mesmo frente às argumentações mais racionais, embasadas e pacientes.

- A síndrome da pré-negativa literária – Uma patologia cruel para os amantes ou meros interessados em leitura ou literatura em que a pessoa doente sofre de uma sistemática necessidade de negar indicações de livros ou a existência e importância dos mesmos, com o argumento “odeio ler”, “isso não serve pra nada” e “pra que iria perder meu tempo com isso”, e se não bastasse desfaz, zomba e socialmente taxa de nerd quem gosta de ler, acreditando do alto de sua ignorância que todos já nascem com todo o conhecimento relevante de mundo em suas cabeças, necessitando apenas que de vez em quando se atualizem em algum programa humorístico da Globo.

- O vício de linguagem – Este é o mais preocupante e subdividido, possuindo cepas específicas que impregnam grupos sociais, classes, tribos jovens e ramos ideológicos. Seu poder de destruição é diretamente proporcional a importância que o discurso oral tem para o individuo contaminado. Os mais famosos são:

- Tipo assim = Comum em jovens patricinhas e jovens descolados de classe média alta independente de gênero;
- Cara = termo já transformado em padrão por grande parte da população que substitui o tradicional “individuo”. Ainda que dê um “que” de meliante ao terceiro indicado em um história ou causo sendo contado a um quarto ser humano;
- Só = Quase exclusividade de consumidores sistemáticos da planta Cannabis, vulgo maconheiros. Substituição universal para quase todas as expressões e colocações críticas, intelectuais, emocionais e de manutenção do canal de comunicação. O dicionário Houaiss tornou-se ultrapassado para seus usuários, seja por falta de necessidade prática, seja por situação de incapacidade ou lesão cerebral avançada.
- Né = considerado um dos piores vícios de linguagem, exatamente por ter escapado de seu original grupo de afetados, a comunidade japonesa recém ou mal adaptada ao português corrente. Configura-se em além de ser uma expressão de afirmação interrogativa, um som ou expressão inconsciente para a manutenção do canal de comunicação aberto, substituindo expressões como “huuum”, “então”, e “ahhh”. Tem impacto direto na seriedade do assunto tratado pelo usuário,sendo cruel, pois este não percebe a utilização do termo.

Enfim, o que explica um vício?
Basicamente a falta de policiamento social e individual de todas as pessoas, sua confiança demasiada em si mesmas (levar-se a sério demais), a falta de preocupação com o próximo e de compreender que o mundo e nossas responsabilidades não terminam só e simplesmente no limite de nossos interesses.
Talvez seja difícil e por vezes ingrata a tarefa, mas atentar uma pessoa aos riscos de ela estar a enveredar pelo caminho da dependência alcoólica por tomar muitas e repetidas doses de bebidas alcoólicas nos Happy Hour’s da empresa, avisá-la dos perigos de que saia com companhias com históricos negativos, de ser adepta de ideologias ou estilos de vida que focam-se na busca por prazer acima de tudo, entre outra miríade de possibilidades. Pode ser ingrato, para alguns ingerente, mas é uma atitude que se espera, pelo menos entre amigos.
E será a mesma atitude que irá criticar/avisar sobre vícios intelectuais, gerados muitas vezes por desatenção ou falta de pensamento crítico, colaborando no aperfeiçoamento dos indivíduos e indiretamente de toda a sociedade.
O texto acima pode parecer por vezes irônico e bem humorado, o que é proposital, mas a mensagem é que vícios são muitos e diversos, mas na maioria das esferas há formas da sociedade e dos indivíduos ajudarem-se em maior ou menor escala.
Eu pessoalmente agradeço a minha irmã, que identificou esses dias um vício de linguagem que nem percebi que possuía.... e que é relativamente novo, pelo menos até onde pude verificar..... o vicio do “Né” ...está sendo uma recuperação complicada, pois ele é usado na manutenção do canal de comunicação aberto, em geral quando estou preparando o resto de uma vocalização mais complexa. Acredito que talvez ele tenha ocorrido em minha última entrevista de estágio mal fadada, mas não percebi, se ocorreu, pode ter sido um real elemento negativo e que quem sabe gerou minha "eliminação".
Felizmente tenho quem me policie quando meu inconsciente está distraído. E você, tem? Se não, arranje alguém, pois a busca do aperfeiçoamento é um serviço individual, mas não necessariamente solitário. E ninguém é perfeito... pelo menos nenhum humano desde Cristo!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

40 anos de homem na Lua!

Por: Dalton Almeida

Na ressaca das comemorações dos 40 anos da chegada do homem a Lua, o bem humorado blog de um colega me convidou para um Podcast, lá dou meu parecer para a pergunta que nunca cala "O Homem pisou ou não na Lua?".

O som da ligação infelizemente não ficou muito claro, mas fazer o que.... serviço da Telefônica é mesmo essa tristeza.

Acessem o link abaixo:

http://magnando.blogspot.com/

E ouçam a postagem de hoje.

Abraços

A irracionalidade tragicômica

Por: Dalton L. C. de Almeida

Como definir um sentimento? Há séculos a ciência, a religião e o senso comum batalham para encontrar respostas que esclareçam a nós humanos por que e para que, a alegria, a raiva e a tristeza, entre tantos outros sentimentos existem. No teatro grego estes viraram máscaras e em nossa sociedade, por vezes, tabus.
O curta metragem Amor! de José Roberto Torero discorre exatamente sobre este sentimento por vezes considerado comum, mas que foi responsável por grandes acontecimentos na história, desde a queda de Tróia, iniciada pelo amor do príncipe Páris por Helena a até o grande sacrifício de Cristo voltado a obter a comunhão e salvação da humanidade.
O amor no curta de Torero, ao contrário da imensa gama de possibilidades de ângulos de abordagem, inclusive os grandes exemplos citados anteriormente, não se foca em um exemplar caso envolvendo personagens conhecidos ou poderosos. Pelo contrário, volta-se as histórias de amor que podem ser consideradas banais, por um grande público em geral esquecido, que a vida fora da ficção pode ser bela, exatamente devido a sua simplicidade, paradoxalmente rica e profunda.
Amor! ao seu modo, busca através da história de vida do casal Apolo e Diana, permeada por rápidas histórias de amor inusitadas, como a de um padre e uma atriz pornô e por definições técnicas do que é este sentimento, por especialistas como cientistas e até uma alcoviteira, mostrar a imensa riqueza e por vezes irracionalidade tragicômica, de um sentimento que a grande maioria das pessoas busca e idealiza.
Arrancando muitos risos ao mesmo tempo em que leva o público a pensar, Amor! agarra os espectadores e os seduz, apresentando-lhes um ângulo diferente do que no geral é considerado um sentimento positivo. E deixando-o com a seguinte pergunta: Será mesmo o amor tão belo? Cabe ao espectador, se conseguir, dinamitar por si, o tabu da “positividade” intocável de tal sentimento. Conseguirá?

sábado, 18 de julho de 2009

Correa e as Farc

Leia essa notícia divulgada nessa sexta pela agência Reuters. Comentário no final.

Líder das Farc revela apoio econômico a Correa

BOGOTÁ/QUITO (Reuters) - Um comandante militar das Farc afirmou que o maior grupo guerrilheiro colombiano colocou dinheiro na campanha do presidente do Equador, Rafael Correa, segundo um vídeo em que aparece o líder rebelde e cuja existência foi confirmada nesta sexta-feira pelo Ministério Público.

O governo equatoriano reagiu poucas horas depois negando qualquer tipo de vínculo com a organização guerrilheira e exigiu da Colômbia a demonstração da veracidade da fita, acusando-a de organizar uma ofensiva política contra o Equador.

"O governo do presidente Correa não tem relação e nem recebeu investimentos das Farc", disse o ministro de Segurança Interna e Externa, Miguel Carvajal, em nota no site da Presidência na Internet.

"É uma campanha midíatica, não é nova (...) É parte de uma ofensiva política contra o país", acrescentou Carvajal à rádio Quito.

No vídeo, exibido por canais de TV, Jorge Briceño, o "Mono Jojoy", fala num acampamento para um grupo de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A fita de vídeo foi obtida no apartamento de uma guerrilheira detida há alguns meses em Bogotá.

Briceño afirma que houve "ajuda em dólares à campanha de Correa e conversas posteriores com seus enviados, incluindo alguns acordos, segundo documentos" em poder do grupo.

O porta-voz do Ministério Público disse que o vídeo está com a polícia judicial.

Os governos de Quito e Bogotá se enfrentaram nas últimas semanas em um novo capítulo de acusações mútuas, após um juiz ordenar a prisão do ex-ministro da Defesa colombiano, Manuel Santos, por ter liderado uma operação militar contra as Farc em território equatoriano.

Comentário:

Por Gutierres Siqueira

Correa é ligado ao Forúm de São Paulo, uma organização esquerdista latino-americana que reúne os partidos socialistas dessa região, incluindo as Farc. Como ele pode negar um vínculo com esse grupo terrorista? Não só ele, mas Chávez e Evo Morales são também fortemente ligados as Farc. Isso já foi mostrado pelo governo colombiano. A ideológica e vergonhosa diplomacia do governo Lula, que é ligada ao Forúm de São Paulo, ainda hoje não considera as Farc um grupo terrorista.

A morte da contestação

Por Gutierres Siqueira

Fiquei pasmo quando li que a UNE do Maranhão está apoiando o Sarney. Isso é o fim dos tempos. Estudantes “revolucionários” apoiando o oligarca bigodudo que ama o coronelismo e o fisiologismo? Estudantes “revolucionários” apoiando a Petrobrás, uma multinacional do petróleo? Hehehe é mesmo o fim! Não se faz mais comunista como antigamente! Aliás, os comunistas nunca foram coerentes mesmo!

Vocês viram o Lula abraçando o Collor? Viram o Lula agradecendo o apóio de Renan Calheiros (o coronel alagoano)? Meu Deus, em breve aparecerá o anticristo! Rsrs O apocalipse chegou! Lula apóia os dois maiores coronéis desse país, que é Sarney (dono do Amapá e do Maranhão) e Renan (dono de Alagoas). Por coincidência são os Estados mais miseráveis desse país.

Isso tudo representa a morte da contestação. Um Estado que ama o jeitinho, unindo inclusive os maiores inimigos de décadas passadas. Lula é aético, ele não sabe discernir entre o certo e o errado, entre a moral e o imoral, para ele tudo é igual! A UNE é a mesma coisa. Ama suas ideologias esquerdistas e quando a esquerda rouba logo falam que os fatos são invenção da imprensa “golpista”.

domingo, 12 de julho de 2009

Há, há, há... O continente da piada pronta!

Por Gutierres Siqueira

Só mesmo na América podemos ver isso. Fidel Castro, o ditador moribundo, escreveu um artigo para o jornal comunista Granma nesse último sábado, em que pede a imediata restituição do poder a Manuel Zelaya, o chavista hondurenho. Castro alerta:

Se o Presidente Manuel Zelaya não for reinvestido nas suas funções uma onda de golpes de Estado ameaça varrer muitos governos na América Latina, ou eles estarão à mercê da extrema-direita militar, formada na doutrina de segurança da Escola das Américas, especialista em tortura, guerra psicológica e terror.

Será que eu entendi direito? Castro está preocupado com a possível proliferação de ditaduras na América Latina? Há, há, há... Só mesmo sendo uma piada. Um ditador preocupado com novos ditadores. Sínico, fala em tortura. E os torturados pelo regime cubano que não concordaram com a “revolución”?

Não há nada pior do que a hipocrisia de um ditador.

sábado, 4 de julho de 2009

As incoerências na crise hondurenha

Por Gutierres Siqueira

Todos já sabem que o então presidente Miguel Zalaya foi retirado do seu cargo por desobediência à constituição de Honduras. Zelaya desobedeceu a ordens da Suprema Corte e do Congresso e tentou usar indevidamente as Forças Armadas na tentativa de levantar uma nova Assembleia Constituinte (algo que é taxativamente proibida pelas leis desse país). Mediante a sua expulsão, o mundo todo está criticando o governo interino de Honduras. Agora, nem tudo é simples como parece. Há inúmeras incoerências sobre a crise em Honduras:

A) O nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o governo interino de Honduras, em meio aos mais perversos ditadores que ainda vivem. Que lindo falar em “democracia” na cúpula da União Africana (UA), ao lado do terrorista Muamar Kadafi, do assassino Robert Mugabe e do sanguinário Omar al-Bashir. O simpático ditador Mahmoud Ahmadinejad foi convidado, mas como é “furão de festa” acabou faltando...

B) A OEA (Organização dos Estados Americanos) estuda a expulsão de Honduras e quer a volta de Cuba (Cada uma!). Ontem, inclusive, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, iniciou uma greve de fome na sede da OEA na Venezuela para protestar contra a “instabilidade democrática” vivida naquele país. Será que a OEA nada falará sobre as 240 rádios AM e FM fechadas, nessa semana, pelo semiditador Húgo Chávez?

C) O governo diplomático de Barack Obama falou manso com os abusos e mortes no Irã e agora fala com autoridade diante da situação em Honduras. Não só Obama falou “grosso” com Honduras, mas também a própria ONU. Mas com Irã ninguém tem coragem de falar seriamente! É fácil bater em gato morto!

Hoje, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou um artigo escrito por Octávio Sánchez, ex-assessor do governo hondurenho (2002-2005), onde ele contesta essa história de golpe e diz que a ação militar naquele país está baseada na legalidade e na defesa da constituição.

Torço para que os militares não caiam na tentação de transgredir o “Estado de Direito” e mostrem para o mundo que em Honduras é possível uma democracia sólida!

terça-feira, 16 de junho de 2009

24 Horas e os seus dilemas

Por Gutierres Siqueira

Os produtores da famosa série 24 Horas inovaram. Antes da sétima temporada lançaram um filme para a TV intitulado em português como 24 Horas: A Redenção. O longa-metragem serve, portanto, como uma introdução da nova temporada. Então, para quem está assistindo a temporada atual, é imprescindível que antes veja o filme.

24 Horas: A Redenção foi criado diretor Jon Cassar para que o público não se desacostumasse com as histórias de Bauer, já que esse novo ano veio com atrasos por causa da grave dos roteiristas. O filme acontece em tempo real em meio a muita ação entre 15 às 17 horas.

Em Sagala, um país fictício do continente africano, Jack Bauer (Kiefer Sutherland) refugia-se em uma pequena comunidade de crianças órfãs que são cuidadas pelo missionário estadunidense Carl Benton (Robert Carlyle). Bauer busca sua redenção após as suas conturbadas relações amorosas e familiares, além da fuga de acusações de tortura e desobediência presidencial.


Mesmo escondido nesse acampamento missionário, Bauer é intimado pelo oficial da embaixada norte-americana em Sangala, Frank Tramell (Gil Bellows) para comparecer aos Estados Unidos e responder as acusações. Bauer nega-se a voltar aos Estados Unidos e prefere fugir para outro lugar.

No mesmo momento acontece nos Estados Unidos a posse da presidente Allison Taylor (Cherry Jones). Algumas horas antes da cerimônia oficial Allison Taylor é informada pelo ainda presidente Noah Daniels (Powers Boothe) que não fará uma intervenção militar em Sangala, apesar do apelo do primeiro-ministro sangalês Ule Matobo (Isaach De Bankole), que está preocupado com o iminente golpe de estado promovido pelo general sanguinário Benjamim Juma (Tony Todd).

Roger Taylor (Eric Lively) filho da presidente possui um amigo problemático, chamado Chris Whitley (Kris Lemche), que começa a desvendar um esquema fraudulento envolvendo nomes poderosos da cúpula militar privada dos Estados Unidos, como Jonas Hodges (Jon Voight), um poderoso empresário da companhia militar privada Starkwood.

Hodges promove um total apóio tático para que o General Benjamin Juma efetue um golpe militar em Sangala. Juma utiliza crianças com parte do seu exército e os seus militares invadem a propriedade do missionário Benton para capturar as crianças daquele local. Porém, lá ainda estava Jack Bauer que ajuda essas crianças a caminharem até a embaixada norte-americana.

“Contra o imperialismo americano”


Os militantes do general Juma convencem as crianças que elas estarão lutando contra as “baratas” dos imperialistas americanos para a real libertação de Sangala. Essa abordagem mostra uma realidade de muitos ditadores em países pobres, que exploram suas populações usando a justificativa de combater um império (ou inimigo externo). Essa abordagem lembra certamente o presidente do Zimbábue, o ditador Robert Mugabe e outros líderes que se apóiam numa ideia maniqueísta para justificar suas atrocidades.

Assim como no filme Diamante de Sangue, A Redenção explora o sério problema humanístico do uso de crianças como soldados dessas guerras civis. Algumas instituições de direitos humanos denunciam a existência de 300 mil de crianças-soldados, principalmente no continente africano e na faixa de Gaza, que são normalmente exploradas por ditadores ou grupos terroristas, como o Hamas. Mas próximo da realidade brasileira, documentários como Falcão-Meninos do Tráfico expõem a cruel demanda do tráfico por crianças e adolescentes nos morros cariocas.

Sétima temporada em Washington, D. C.


O cenário já não é mais Los Angeles, mas sim a capital federal Washington. Jack Bauer está de volta, agora no senado americano sendo julgado pelas acusações de tortura. A CTU (Counter Terrorist Unit, ou Unidade Contra-Terrorismo) já não existe. Apesar de tudo diferente, os Estados Unidos continuam debaixo de uma ameaça terrorista. Porém, a ameaça é interna, do ressuscitado ex-agente da CTU, Tony Almeida (Carlos Bernard).

Também, na sétima temporada o braço direito de Bauer não é Chloe O'Brian (Mary Lynn Rajskub) ou Bill Buchanan (James Morrison), mas sim a agente federal Renne Walker (Annie Wersching). Walker sofrerá bastante com conflitos profissionais ao acompanhar Bauer em sua jornada contra o terrorismo iminente e a problemática da tortura.

Agora, quem cuida dessas ameaças é o FBI, que contará com Bauer para ajudar na captura dos terroristas. Nessa nova fase o terrorismo passa tanto pelas mãos de Tony Almeida, como do general Benjamim Juma e o seu companheiro general Iké Dubaku (Hakeem Kae-Kazim). Além dos terroristas africanos, todo o apóio parte de agentes corruptos do governo americano, do FBI e das empresas militares privadas, entre eles o poderoso Jonas Hodges.

O dilema da tortura

As torturas, como em todas as temporadas causam um mal estar na vida de Jack Bauer e nos seus relacionamentos profissionais, mas nesse sétimo dia, Bauer continua torturando, com suas alegações dos fins justificando os meios. Ao contrário da leniente CTU, Bauer encontra forte oposição do FBI quanto à tortura, especialmente do agente especial Larry Moss (Jeffrey Nordling). No decorrer da temporada, Bauer vai “convencendo” que essas “técnicas” são métodos eficazes para aqueles que o acompanham, especialmente Renne Walker. A grande pergunta é se Bauer fará escola no FBI?

O Bauer da era George W. Bush é o mesmo Bauer da era Barack Obama. Quem acha que a série seria captada pelo “politicamente correto” já se decepcionou nos primeiros episódios. O instinto desse ex-agente da CTU está na captura e destruição de qualquer terrorista. Aliás, somente alguém baseado em uma visão irrealista de política internacional, achará que as necessidades belicistas dos EUA mudarão simplesmente pela boa vontade do novo presidente. Acima dos sonhos encarnados no Obama, há o pragmatismo desse líder mediante dos desafios enfrentados no planeta.

Tortura serve para alguma coisa?

Jamais uma resposta afirmativa será dada para tal pergunta. Agora, algumas questões podem ser levantadas para esse debate. Segundo relatórios da CIA o terrorista da Al-Quaeda, Khalid Shaikh Mohammed, capturado pelo exército americano no início de 2008, sabia de planos para um novo ataque ao território dos EUA. Khalid sofre na base de Guantánamo a técnica de tortura chamada de waterboarding (simulação de afogamento) por 183 vezes, e revelou informações suficientes para o desmonte de uma célula da Jemmah Islamiyah, com 17 membros. Certamente essa confissão sob tortura salvou milhares de americanos. Mas é ético? Os fins justificam os meios?

Bauer lida com isso. Os idealizadores da lei criaram tais preceitos para o bem da sociedade, e a lei está acima de um ônibus com quinze passageiros na mão de terroristas. Bauer encara que a tortura é um erro que chama outro, mas uma vez efetuado pode salvas vidas.

O produtor da série 24 Horas, Joel Surnow, em entrevista para a jornalista Jane Mayer da revista The New Yorker, declarou: "Recentemente, estiveram aqui vários especialistas em tortura, e eles falaram 'Vocês não têm idéia do número de pessoas que é influenciado por isso. Tomem cuidado'. Eles dizem que a tortura não funciona. Mas eu não acredito. Não acho que seja honesto dizer que, se uma pessoa amada estivesse presa, e você tivesse cinco minutos para salvá-la, você não usaria tortura. O que você faria? Se alguém tivesse raptado uma das minhas filhas, ou a minha mulher, eu iria querer ter a oportunidade. Não existe nada - nada - que eu não fosse capaz de fazer”.


Bauer lida com isso. Os idealizadores da lei criaram tais preceitos para o bem da sociedade, e a lei está acima de um ônibus com quinze passageiros na mão de terroristas. Bauer compreende que a tortura é um erro que chama outros erros.

OBS: Esse artigo foi publicado originalmente como o título “24 Horas longe do fim” na Revista IKONE, uma publicação acadêmica para as aulas do 5° semestre de jornalismo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Textos Comentados: A obamanização do mundo

Por João Pereira Coutinho*

Estou cansado da obamanização do mundo. Inventei agora a palavra. Vocês sabem o que ela significa: a obamanização consiste em substituir a realidade pela fantasia, esperando que nos quatro cantos do globo surja sempre um candidato capaz de imitar a retórica bondosa e evangelista do original Barack.

Aconteceu agora no Irã. Li os jornais disponíveis. Acompanhei as reportagens televisivas. O tom era semelhante: pela primeira vez desde 1979, altura em que Khomeini deixou o seu exílio dourado em Paris para regressar a Teerã, os iranianos iriam escolher novo presidente. Pior: iriam escolher um "moderado" (Mousavi) por oposição a essa grotesca criatura chamada Ahmadinejad.

A fantasia esquecia dois pormenores básicos, quase dolorosos. Primeiro: o Irã não é uma democracia. O Irã é uma teocracia, o que significa que as decisões (iniciais e finais) pertencem ao Líder Supremo, Khamenei.

É o Líder Supremo quem escolhe os candidatos presidenciais. Em todas as eleições, aparecem centenas ao cargo. Esse ano, foram 485 candidaturas. Quatro foram selecionadas, depois de verificação apertada, ou seja, depois de se verificarem os créditos revolucionários dos quatro candidatos, rigorosamente do sexo masculino e rigorosamente muçulmanos xiitas. Mas a influência do Líder Supremo não termina aqui. O Líder Supremo, independentemente do resultado da votação, escolhe o presidente do Irã. Os iranianos que foram às urnas são apenas figurantes de um teatrinho sórdido.

Mas há mais. Nos últimos dias, surgiu igualmente a fantasia de que Ahmadinejad poderia ser derrotado por um "moderado". E quem é o moderado? Precisamente: Mir-Hossein Mousavi, um antigo primeiro-ministro de Kohmeini, responsável pela execução maciça de opositores políticos na década de 80 (20 mil? 30 mil?). Alguns jornalistas, sem um pingo de vergonha na cara, chegaram mesmo a acrescentar que Mousavi iria inaugurar um novo período de relações amigáveis com o Ocidente e, pasmem, Israel. Para os relapsos, relembro que Mousavi esteve envolvido no atentado terrorista ao centro cultural judaico de Buenos Aires. Morreram 85 pessoas.

E agora? Agora, coisa nenhuma. A vitória de Ahmadinejad, seguramente forjada, cumpriu na perfeição o roteiro pré-definido pela teocracia iraniana. O que significa que, depois dos Guardas Revolucionários fazerem o seu trabalho, prendendo ou espancando os manifestantes, o Irã continuará o seu glorioso caminho rumo à pobreza, à opressão das suas minorias e, claro, à bomba nuclear, para uso cirúrgico contra Israel. A obamanização do mundo é uma idéia simpática. As idéias simpáticas, pelos vistos, não chegam a Teerã.

* João Pereira Coutinho, 32, é colunista da Folha. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online, e às terças-feiras para o caderno Ilustrada.

Comentário

Por Gutierres Siqueira

Enfim, João Pereira Coutinho mostra com maestria como o mundo vive uma fase de messianismo político. Os messiânicos acreditam que elegendo os “homens certos”, o mundo será um lugar melhor. É temerário como o ser humano tem uma facilidade incrível em depositar esperanças em estadistas. Daí nasce ditadores que se portam como salvadores. A saudável desconfiança nos governantes morre a cada dia, principalmente depois da vitória do messias Obama.

No Brasil assistimos o slogan “a esperança venceu o medo”. Nos Estados Unidos contemplamos o “sim, nós podemos”. Nada mais infantil, do que a credulidade em homens que detêm o poder de grandes nações. A esperança é boa, mas a ingenuidade é mortífera.

Nesses últimos dias, a imprensa “oba” “oba” louvou o “moderado” Mir-Hossein Mousavi. Aliás, existe moderação é uma teocracia (lê-se clerocracia) islâmica? Difícil. Hoje o governo americano fala até em negociação com um “Talibã moderado”. O que é isso? Ah sim, talvez o “talibã tradicional” mata uma mulher “transgressora” com pedradas ao vivo em estádios, e o “talibã moderado” mata com pedradas, mas sem espetáculos. Ridículo. Não existe moderação com mulçumanos fanáticos que cresceram aprendendo que louvam a Alá quando matam os infiéis, ou seja, os ocidentais.

Portanto, Mousavi e Ahmadinejad são nada mais do que fantoches na teocracia iraniana. Farinhas do mesmo saco!

domingo, 14 de junho de 2009

Reportagem: Vendendo o seu produto

Por Gutierres Siqueira com Fernanda Silvestre (do Blog Jornalismo Literal)

Personagens diferentes no ambiente massificado por pessoas “iguais”

A busca por uma personagem pode ser trabalho árduo a um jornalista. Ainda mais se essa personagem possui uma vida nômade e ligeiramente excêntrica. Ao passar diariamente pelo Conjunto Nacional, podemos encontrar uma figura no mínimo curiosa. Imagine a cena: um Hare Krishina meditando no meio do Conjunto Nacional, em plena Avenida Paulista, a maior avenida do país e também a mais agitada e caótica.

Indiferente à agitação do trabalhador neurótico paulistano, o pequeno Hare Krishina, todas as manhãs, com sua já surrada túnica laranja e pés descalços adentra o Conjunto Nacional e senta-se em um banco próximo à escada rolante que dá acesso ao Cine Bombril. Respira fundo, cruza as pernas em formato de lótus, fecha os olhos e começa a meditar. Lá fica por horas. Quem passa por ele olha com um ar curioso, espantado, muitas vezes achando-o louco.


Sem se importar com a cidade que gira lá fora, nossa personagem flutua em seu nirvana particular. Careca, com um rabicó na nuca todo trançado e aparentemente com idade aproximada de 40 anos, o seguidor do deus indiano que dá nome à religião, depois de muito meditar, abre os olhos, tira alguns livros de uma bolsa-sacola e sai do Conjunto, posicionando-se na esquina da Paulista com a Hadock Lobo, a poucos metros do metrô Consolação.

Às cinco horas da tarde o movimento da Paulista é intenso. Executivos, oficce boys, secretárias, diretores e a mais variada fauna de trabalhadores urbanos estão no fim do expediente e começam a se aglomerar na rua, lutando por um espaço na calçada. E lá está o Hare Krishina, com sua inseparável sacola de livros. Começa a abordar os apressados passantes da Paulista. Quer ler os ensinamentos de sua religião para os “homens sem fé”. Quase ninguém lhe dá atenção. Acham que ele quer vender os livros. Um rapaz com porte de modelo para. Ligeiramente e com os olhos arregalados, ele folheia um dos livros com uma rapidez absurda, a procura de um trecho que caiba perfeitamente para aquela pessoa e aquele momento. Começa a ler e fazer movimentos com a mão direita, como se fosse um profeta. A mão esquerda segura o livro. O rapaz presta atenção na leitura, parece interessado. Depois de cinco minutos, o Hare Krishina faz uma reverência a seu saudoso ouvinte que agradece e segue seu caminho. O singular homem franzino se vira e retoma as abordagens.

A história desse homem, caricata figura do Conjunto Nacional merece ser contada. Traçamos um roteiro para encontrá-lo, observá-lo para termos maior riqueza de detalhes e tentarmos uma entrevista com ele e assim conhecermos sua vida, suas crenças e seus caminhos de andarilho.

Começamos a busca em uma sexta-feira. Nenhum sinal do Hare Krishina durante todo o dia. Segunda-Feira marcamos logo cedo para uma nova tentativa. Mais uma vez, nosso personagem estava ausente. Esperamos por um longo tempo. Andamos pelo quarteirão, na esperança de vê-lo lendo suas profecias a algum pedestre. Sem sucesso, por volta das onze da manhã, fomos até a Livraria Cultura, maior atração do Conjunto Nacional. Analisando a estante de livros sobre comunicação, divagávamos sobre ideologias e o futuro da imprensa. Achamos perdido em meio a uma infinidade de livros, um pequeno ensaio sobre Luiz Carlos Prestes, escrito por sua filha Anita Leocádia. Leituras interessantes foram montando nossa “cesta de compras”. No andar superior da livraria, paramos na sessão de esportes. Como poderíamos imaginar que existia um livro intitulado “Como escolher os melhores peixes para o seu aquário”. As surpresas não paravam de aparecer. Em maio a mais uma discussão entre direita e esquerda, começamos a falar sobre o livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. Divagando sobre sua importância, somos então abordados por um senhor, que nos pergunta se somos alunos de história. Respondendo que não, ele revela que foi aluno de Sérgio Buarque de Holanda e nos conta sobre a importância histórica da obra de seu professor para o Brasil. Voltando-se novamente para a prateleira de livros de Sociologia, o homem começa a folhear um espesso livro. Concluímos que em São Paulo podemos encontrar grandes personagens aonde quer que possamos estar.


Sem notícias do intrigante Hare Krishina, seguimos para o bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, onde mais uma figura singular da cidade trabalha. Chegando por volta das 13 horas, nos deparamos com seu espaço de trabalho (o topo da escadaria do metrô), vazio. Estávamos definitivamente sendo abandonados por nossas personagens.

O Hare Krishina realmente sumiu. Por mais dois dias voltamos ao local e nada desse personagem, não sabemos o seu paradeiro, pois por toda a Avenida Paulista não há um sinal de suas meditações. Porém, a vendedora de chocolate não demorou em voltar para o seu lugar. Depois de dois dias pudemos conversar com a camelô mais famosa da estação, e logo descobrimos o motivo de sua repentina sumida: a fiscalização mais intensa da guarda contratada pelo metrô paulista.

Vida de vendedor ambulante

Todos os dias milhares de pessoas passam apressadas pelas estações de metrô na cidade de São Paulo. Entre essas pessoas estão muitos que nem percebem o contingente de vendedores ambulantes, que fazem sua vida por meio de pequenas vendas, seja desde um churrasco até milho cozido.

Eles disputam espaço vendendo os seus produtos em pequenas barracas improvisadas, porém de fácil manejo para fugir dos guardas que fazem a segurança do metrô. Cada um possui o seu canto que é delimitado de forma invisível. Entre alguns vendedores ambulantes do metrô Vila Mariana há uma que se destaca por seu famoso bordão marqueteiro: - “Leve o chocolate”!


Gonçala Ferreira da Silva, maranhense, natural de uma pequena cidade chamada de Pio XII, veio para São Paulo há 16 anos. Quanto à idade ela diz que tem 4.3, ou seja, um eufemismo para falar sobre os anos de vida, mas Gonçala diz não se importar em revelar quantos aniversários já fez na vida. Gonçala, portanto, é mais uma migrante entre milhares que buscam na capital paulista uma vida melhor. Mas, segundo dados recentes, esse fluxo migratório diminui a cada ano, pois hoje a atração para os trabalhadores brasileiros são as cidades de médio porte, que recebem moradores de pequenos municípios e até das metrópoles.

Gonçala está todos os dias, faça chuva ou faça sol. Quando o frio aperta, não deixa de usar a sua toca tipicamente russa. Costuma vender sozinha, mas às vezes está conversando com uma de suas colegas camelôs. Normalmente de braços cruzados olha para o horizonte, como se estivesse desatenta. Mas não, sempre muito esperta, atende rapidamente os seus clientes.

Diante dos perigos da rua, ela diz que nunca foi assaltada, mas já presenciou muitos assaltos na porta do metrô. Muitas vezes ela é abordada por pessoas pedindo dinheiro ou simplesmente com a história que “perderam” suas passagens e que precisam voltar para suas casas. Gonçala, experiente com as ruas, não atende esses pedidos.

Mãe solteira e com poucos parentes e amigos na Grande São Paulo, Gonçala trabalhou pouco tempo com carteira assinada, efetuando serviços como emprega doméstica. Depois, já na Vila Mariana, passou a trabalhar nas ruas vendendo os cigarros paraguaios, que são facilmente adquiridos nos atacados no centro da cidade. Nesse mercado, passou somente dois anos e então resolveu vender chocolates.

Gonçala tem um filho de 13 anos. Esse pré-adolescente ajuda sua mãe desde os quatro anos. Estudante da rede pública, não fica todo o dia com a mãe, somente quando possível. Os dois moram em Heliópolis, a maior favela da capital paulista, que aos poucos recebe uma ampla estruturação urbanística. Entre o trabalho e a sua casa, ela gasta um pouco mais de trinta minutos. Gonçala trabalha todos os dias das 17h até meia-noite. Porém, nos últimos dias tem saído mais cedo, por volta das 22h30, devido à intensa fiscalização no final da noite.

Esta forçada saída de duas horas mais cedo tem preocupado Gonçala. Um horário muito bom de vendas, que é a vinda dos estudantes de suas universidades, tem sido abortado pela fiscalização. Para complementar a renda, Gonçala trabalha ainda como vendedora dos produtos Natura e Avon, além do trabalho de manicure aos finais de semana.

Gonçala, ainda conversando sobre a vida de camelô, lembra que o tipo de venda mais arriscada nas ruas de São Paulo são CD`s e DVD`s piratas, até mais do que cigarros e os seus chocolates. A preocupação com os fiscais é constante. No início da conversa ela expressou até mesmo uma desconfiança e logo perguntou se não éramos uma espécie diferenciada de fiscais, ou mais conhecidos popularmente como “Rapas”. A preocupação não é à toa, pois a “Rapa” já tomou suas mercadorias por três vezes, ou seja, prejuízo total.

Marketing popular

Nesses últimos dez anos, a ambulante está praticamente todos os dias na porta da estação gritando o famoso “Leve o chocolate”. Gonçala, observando os camelôs da Rua 25 de março percebeu a disputa interessante entre cada um, apresentando por meio dos gritos os seus produtos. Resolveu imitá-los. Gonçala não lembra o momento exato que começou a usar o seu bordão, mas comemora o fato e diz que suas vendas aumentam, pois a sua frase desperta os passageiros desatentos, que logo percebem o seu chocolate.

A voz de Gonçala é inconfundível, assim como sua frase. Mas a sua estratégia de marketing não é uma unanimidade. Gonçala diz que se diverte, mas vê muitos imitando sua voz, principalmente grupos de garotos e garotas que saem das várias escolas presente na região. Além da imitação, ela relata que alguns acham simplesmente engraçado a sua fala e outros até se irritam. Gonçala diz que não se incomoda com as imitações em tom jocoso.

Ela revela que um jovem universitário já gravou sua voz com um MP3 e uma câmera filmadora. Esse jovem disse que ia colocar o material na internet. Após essa interessante descoberta, vimos que não somos os únicos despertados pelo “leve o chocolate”.

Ao final da conversa, que fluiu com mais facilidade do que o esperado, Gonçala desejou sorte e disse após a conclusão do trabalho, quer receber o endereço da web onde o texto será publicado. Ela quer acessar com o seu filho. Prometemos informá-la.

Observando esses personagens paulistanos como o Hare Krishina, o aluno do Sérgio Buarque de Holanda e a Gonçala Ferreira, vemos como todos procuram vender os seus produtos e as suas abordagens criativas. Um vende a sua fé, o outro a sua intelectualidade e a outra alguns chocolates. São Paulo é um lugar para vendedores.