quarta-feira, 6 de maio de 2009

O constrangimento de levar um “bolo”

Por Dalton L. C. de Almeida

Na diplomacia internacional, em geral, a educação e o respeito são artigos e expedientes básicos e corriqueiros para a boa relação entre países. Na qual a falta de qualquer um desses elementos costuma causar mal-estar e configurar um problema maior do que aparentemente se imagina.
É o que ocorre nas relações entre Brasil e Irã atualmente, após o deselegante (leia-se deseducado), “bolo” que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad deu ao Itamaraty ao cancelar abruptamente sua visita ao Brasil. Visita esta que desagradava diversos setores da sociedade brasileira, mas ainda sim, havia sido largamente anunciada.
Naturalmente que em condições “normais” um cancelamento não seria visto de forma negativa, afinal, a dinâmica de um Chefe de Estado está repleta de imprevistos que podem obrigar a modificações bruscas de planejamento. Só que para “lição” ao Itamaraty e em reforço a imagem, já negativa, do presidente iraniano, este não foi o caso.
E quais seriam os casos válidos para impactar a agenda de um compromisso de aproximação com uma potência econômica regional, reconhecida pelo seu caráter diplomático conciliatório e progressista? Dentre eles figuram desastres naturais de imenso vulto nacional, como grandes enchentes ou terremotos, situações de guerras ou levantes civis com objetivo de golpe e problemas de saúde pessoal (e não política) do próprio Chefe de Estado.
Infelizmente para o Itamaraty a desculpa dada pelo Irã não foi nenhuma destas. E o Brasil foi, não oficialmente, preterido em benefício da manutenção da imagem política do presidente iraniano em seu próprio país e a uma visita à Síria. Algo no mínimo constrangedor.
Basicamente, para o presidente iraniano, o cancelamento de sua visita ao Brasil é irrelevante, tendo sentido apenas no contexto de sua imagem internacional, que de nada servirá se perder internamente a reeleição. Já para o Brasil, além de uma desrespeitosa desfeita, foi um negativo desfecho a um movimento diplomático arriscado, tendo em vista que o convidado é politicamente controverso, de espírito democrático duvidoso e carrega um histórico de declarações e defesas incompatíveis com o espírito democrático nacional e internacional, como a negação ao holocausto judeu (do qual, vale ressaltar, não faltam fotos, documentos entre outros) e a defesa do fim do legalmente reconhecido Estado de Israel.
E qual é a lição/moral da história? Resumidamente que a busca por aproximação diplomática com outros governos e “pseudo-governos” deve ser pensada de forma cuidadosa e realista, sabendo que nem sempre vale à pena, como neste caso, e que em diplomacia, o respeito e a seriedade com que se é tratado é importante. Felizmente, a discrição também é uma característica diplomática brasileira e a desfeita iraniana foi minimizada.
Mas todo cuidado é pouco, ainda mais com nosso próximo e controverso visitante confirmado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Coréia do Norte (e representante não-oficial de um dos membros do eixo-do-mal) Pak Ui-Chun. Será um novo “bolo”?