quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mudanças diplomáticas

Por Gutierres Siqueira

Na era do lulismo, a diplomacia brasileira opta pela política Sul-Sul, causando polêmicas diante do enfraquecimento no discurso democrático, e por suas alianças com nações que não respeitam os direitos humanos

Na última segunda-feira, o Brasil recebeu o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sob protestos de judeus, homossexuais, cristãos, feministas e até dos congressistas americanos, tanto democratas como republicanos. A rápida visita selou alianças comerciais e apoio mútuo aos interesses de ambos os presidentes. Luiz Inácio Lula da Silva apoiou o uso pacífico da energia nuclear iraniana, enquanto Mahmoud Ahmadinejad apoiou o interesse do Brasil por uma vaga permanente no Conselho de Segurança do ONU. A visita mostra uma nova faceta da diplomacia adotada no governo Lula, denominada de “política Sul-Sul”, ou seja, aproximação crescente com os interesses de países subdesenvolvidos e emergentes.

Nessa nova postura, o Brasil se afasta da diplomacia americana. Ainda nessa semana, o Brasil entrou em conflito com os Estados Unidos na resolução do impasse em Honduras. O Itamaraty, desde o início, apoiou o presidente deposto Manuel Zelaya, enquanto recusou qualquer negociação com o governo interino de Roberto Micheletti. Hoje, o governo americano defende as eleições como solução do conflito, mesmo sem a restituição de Zelaya. Para o governo brasileiro, alinhado com os vizinhos bolivarianos, é inaceitável a aceitação do pleito em Honduras sem a restituição do ex-presidente. Em entrevista coletiva, nessa terça-feira, o assessor especial para assuntos internacionais da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, chegou a falar em “certa decepção” para com a política externa do presidente Barack Obama. "Todo aquele clima favorável, que se criou com a eleição do presidente Obama, que se fortaleceu na reunião de Trinidad e Tobago (Cúpula das Américas), começa a se desfazer um pouco", disse Garcia.

As falta de sintonia com os Estados Unidos não se restringe a Honduras. Nos últimos meses, o acordo militar entre os Estados Unidos e a Colômbia casou irritação dos governos sul-americanos, especialmente do Equador, Bolívia e Venezuela, de Hugo Chávez. O Brasil cobrou “garantias de não ingerência” dos dois governos. Ao mesmo tempo, a Venezuela comprova armas da Rússia, mas não recebeu reprovação do presidente brasileiro. Diante desse quadro, o senador oposicionista Álvaro Dias (PSDB-PR) escreveu que a política externa brasileira tem adotado “dois pesos e duas medidas” na América Latina: “Causa estranheza a postura adotada pelo presidente Lula: sem pestanejar, questionou o acordo discutido entre Bogotá e Washington, e ao mesmo tempo se omite diante de fatos graves ocorridos no nosso entorno (...) não houve nenhuma manifestação sobre a apreensão, pelas autoridades colombianas, de armas em poder das FARC, artefatos bélicos ven didos pela Suécia ao governo da Venezuela há décadas. Igualmente silenciou sobre o envolvimento financeiro das FARC na campanha presidencial do presidente do Equador, Rafael Correa. Em nenhum momento houve uma condenação das investidas das FARC. A retórica palaciana sempre evitou qualificar o caráter criminoso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”.

Mudanças paradigmáticas

Mesmo elogiada por ter conquistado espaço para o Brasil em alguns dos principais fóruns mundiais, a diplomacia brasileira também tem sido criticada pelo excesso de pragmatismo. A aproximação crescente com os interesses de países subdesenvolvidos e emergentes trouxe certos embaraços para um país que defende a democracia. Em reuniões diversas, o presidente Lula sentou ao lado de ditadores, como no Robert Gabriel Mugabe, ditador desde 1980 no Zimbábue, e Muammar Kadafi, que governa a Líbia desde 1969. Nesse sentido, o Brasil tomou medidas nada alinhadas com a tradição de respeito aos direitos humanos.

Em maio de 2005, o Brasil realizou, pela primeira vez, a cúpula América do Sul-Países Árabes. Nenhum país árabe era ou é democrático. Ao mesmo tempo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou vários países do Oriente Médio, com exceção de Israel, a única democracia da região. Ainda em 2005, o Brasil negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia islâmica radical, que praticou os massacres de Darfur. O Brasil deixou de apoiar o brasileiro Márcio Barbosa, para ratificar a candidatura de Farouk Hosni, ministro da Cultura do Egito, para a diretoria-geral da Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Hosni afirmou que queimaria livros hebraicos se os encontrasse na biblioteca de Alexandria.

Muito dessa mudança na política externa é atribuída ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, diplomata de carreira no Itamaraty. Hoje, Guimarães ocupa a cadeira da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Acusado de antiamericano, Guimarães só vê divergências com os americanos: “Os EUA são o país mais importante do mundo. Em todas as questões, a posição americana é muito importante, fundamental. Meio ambiente, comércio, questões militares, políticas. Mas a visão dos EUA às vezes é diferente da do Brasil, isso não tem nada de mais. Agora, em muitas ocasiões do passado, as pessoas julgaram que era conveniente para o Brasil se alinhar com os EUA de uma forma, na minha opinião, excessiva”, disse em entrevista para a revista Carta Capital.

Confusão entre política de Estado e política do partido

Há uma confusão entre políticas de Estado, com políticas de partido. Essa é a opinião do ex-ministro da Fazenda e embaixador Rubens Ricupero. "O governo está moldando o perfil com o qual quer entrar para a História. A política exterior tornou-se mais identificada ao governo e também a seu partido, o PT. Não está mais identificada ao Estado", afirmou Ricupero ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Para ele, isso explica a guinada esquerdista no Itamaraty. “Se há um ponto na política brasileira que encontrou um consenso de todas as correntes de pensamento, esse ponto é exatamente a política externa levada a efeito pelo Itamaraty (...) Esse consenso não existe mais", completou Ricupero, que hoje preside a Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e o Instituto Fernand Braudel.

Diante da nova visibilidade internacional do Brasil, o país precisa optar por caminhos diplomáticos mais firmes. Para isso, precisa pautar sua política pela democracia e direitos humanos, como sempre fez nesses vintes anos de democratização. Ou seja, é a hora do Brasil buscar a posição que definirá sua política no mundo. Qualquer escolha agora terá influencia por muitos anos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Terceira Via

Por Gutierres Siqueira

Acompanhe o Twitter do Programa Terceira Via. Esse projeto é feito por alunos da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM), que em um estúdio de televisão da faculdade, farão entrevistas políticas.

No primeiro programa contaremos com a presença do vereador José Police Neto (PSDB), líder governista na Câmara Municipal de São Paulo (SP) e também, com a subprefeita Soninha Francine (PPS).

Participe mandando perguntas por meio dos comentários desse blog ou no twitter.

O Terceira Via acontecerá no dia 19/10, às 19h00, na FAPCOM. Infelizmente não aberto para o público.

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