segunda-feira, 26 de abril de 2010

“Dinovo, Dinovo, Dinovo” e uma cruzada ideológica

Por Dalton Almeida


Repetida por coloridos personagens, possuidores de antenas, nomes esdrúxulos, vivendo em uma toca cavada num campo verde e com televisões nas amplas barrigas arredondadas, os Teletubbies são um exemplo de como crianças gostam de repetições integrais de programação e uma metáfora muito clara a respeito da cobertura dos atuais acontecimentos envolvendo a Igreja Católica, e que muito além de apenas jornalismo, se tornou uma cruzada ideológica.

Erro de discurso?

Nos últimos meses a Igreja Católica teve sua credibilidade profundamente abalada pelas muitas denúncias de pedofilia envolvendo seus sacerdotes em diversos locais do mundo, em especial na Irlanda, que ostenta atualmente o número de 30 mil casos.

Em tal maremoto de denúncias, o Vaticano tremeu sob a clava da mídia, que fazendo o que é de sua alçada, exigiu algum posicionamento da Cúria Romana.

Em um movimento ousado para os padrões do Vaticano, o papa Bento XVI publicamente enviou uma carta aos bispos Irlandeses, mostrando o quanto os envolvidos em casos de pedofilia haviam feito mal a si, às vítimas, à sociedade e à Igreja. E, claro, pedindo desculpas aos católicos irlandeses e de todo o mundo por tamanha vergonha.

Dentro de suas possibilidades o papa condenou os atos e clamou aos fiéis que orassem e buscassem penitência pelo mal que abalou a credibilidade da Igreja . Ao mesmo tempo, foi claro em deixar a cargo da justiça local de cada país, julgar e condenar os padres por seus crimes, além de divulgar as normas internas (já existentes) de cunho processual para casos de abuso.

Neste contexto o papa, indo contra a lógica de qualquer especialista em marketing, que tomaria o cuidado de blindar e esconder o sumo Pontífice da “frente das câmeras”, tomou como um líder (que é sua função) pessoalmente a decisão de dar respostas aos anseios de seus fiéis e explicar-lhes o óbvio. Que a Igreja, com milhares de membros eclesiais, também tem suas maçãs podres e que está fazendo tudo a seu alcance para remediar uma situação muito mais séria do que a própria Cúria imaginava.

Tendo em vista os limites políticos de Bento XVI, que não conta mais com o poder militar de seus predecessores, e suas obrigações como chefe da Igreja, este fez claramente tudo a seu alcance para remediar a situação.

Mas a mídia, aproveitando-se da polêmica, nega-se a soltar o osso e deu partida a uma cruzada contra o sumo pontífice, novamente levantando à categoria de verdades absolutas e soluções aos problemas atuais, as já batidas críticas e objeções de outras denominações cristãs que são tradicionalmente inconformadas com o fato de não poderem ditar regras em uma igreja que não lhes diz respeito. Assim, a mídia, iniciou abertamente movimentos para incriminar pessoalmente o Papa nos escândalos e de culpar a tradição do celibato eclesial, via sofisma, pelos atos de pedofilia.

Não bastasse,a mídia agora exige de Bento XVI que em todas as suas aparições públicas, independentemente dos objetivos das mesmas, insistentemente fale a respeito do assunto “pedofilia na Igreja”. A ponto de dizer, nas entrelinhas, que o discurso do Papa em suas aparições tradicionais, a palavra de Deus, não é o que “o povo quer ouvir”. E sim que ele tem de falar (o que vende jornal) um pouco mais sobre a pedofilia e, no mínimo, declarar-se pessoalmente responsável, expulsar os pecadores da Igreja (não no sentido de demissão e sim de excomunhão) e quem sabe, para alegria de todos, renunciar.

Um triste caso e um péssimo jornalismo

Obviamente minha crítica a mídia não procura eximir a Igreja das responsabilidades legais e morais dos atos cometidos sobre aqueles sob sua guarda. Apenas busca levantar que a função do Papa não é ser o responsável direto por todos os atos de todos os humanos autodeterminados que respondem a ele. Como ao dono da Pepsi, por exemplo, não seria impingida a responsabilidade se um de seus funcionários cometesse um crime a revelia da instituição, de seu conhecimento e, em especial, de seu consentimento.

Fica claro assim, que a função do Papa não é, antes da sua função natural, por motivos de interesse mercadológico da mídia, falar sobre um assunto que de dentro do alcance de sua influência já está exaurido. A função do papa é falar sobre Deus. E é irônico ver que a mídia tenta e consegue vender, que Deus, nesse caso, é secundário.

Também quero destacar que sofismas baixos, ainda que nas entrelinhas, não fazem o bom jornalismo e sim, apenas, o mal uso da liberdade de imprensa, controlada por aqueles que claramente tem algum interesse e querem ver o papa pessoalmente envolvido. E assim, provavelmente, terem suas ideologias anticristãs, anticatólicas ou anti-papistas alimentadas.

E como fica?

Enquanto isso e enquanto os próprios católicos não perceberem até onde vai o espírito crítico e quando a defesa do mesmo é apenas proselitismo anticatólico mascarado, a mídia continuará a “Dinovo,Dinovo,Dinovo”, repetir a mesma história, mesmos sofismas e misturar tudo em um grande caldeirão que lhe dê audiência, cause repulsa e inflame o ódio, mesmo que no processo manche a honra de milhares de pessoas inocentes, numa ode a “estereotipação” de todo o corpo de uma igreja.
Ao mesmo tempo que com alegre irônia, muitos "braços abertos" estarão prontos a receber na verdade e na fé os desacreditados no catolicismo.

O que é um sofisma?

Sofismas são raciocínios aparentemente válidos, mas inconclusivos. Ou que partem de uma premissa verdadeira/verossímil, mas que são concluídos de uma forma absurda, que aparenta seguir regras lógicas.

Um exemplo:

“O galo canta e o sol nasce. Portanto, se quebrarmos o pescoço do galo o sol não irá nascer”

Hilário, não? O sofisma atribui ao galo o poder de fazer o sol nascer, mediante a observação de dois eventos distintos, o cantar da ave e o “movimento” do astro em nosso céu. Uma óbvia idiotice, mas com um verniz de lógica.

E quais são os sofismas do momento?

Os dois mais “claros” sofismas encontrados nas entrelinhas da maior parte da cobertura jornalística dos escândalos envolvendo padres pedófilos são:

“O papa é o chefe da Igreja, cria regras e todos as obedecem. Portanto, quando um padre abusa de uma criança a culpa é do papa, pois ele é o chefe da igreja e todo padre obedece às regras por ele definidas”

“Padres não podem ter relações sexuais, são celibatários. A pressão do celibato pode levá-los a fazer sexo. Portanto a pedofilia é efeito colateral do celibato”.