sexta-feira, 12 de março de 2010

Eduardo Giannetti: Há pensamento sério no Brasil?

Vítima farsesca

Editorial do jornal Folha de S. Paulo em 07 de março de 2010

Com tese de que a "mídia" o persegue, PT mantém figurino autoritário e se faz de injustiçado para encobrir falência moral

O TRUQUE é velho, e sua repetição só indica o hábito petista de afetar ares de pureza em meio ao pragmatismo mais inescrupuloso. Em documento oficial, a Executiva Nacional do PT reeditou, quinta-feira, a tese de que há uma "guerra de extermínio" contra o partido. Posteriormente, amenizou os termos. A promover tal "guerra" estariam "amplos setores do empresariado, particularmente a mídia".

Mídia, no jargão corrente, significa todo jornal ou empresa de comunicação que não defenda figuras notórias do partido.

Como, por exemplo, o ex-ministro José Dirceu, beneficiário de uma contribuição de R$ 620 mil pela assessoria prestada a um grupo com interesse na reativação da Telebrás. Ou como os mensaleiros denunciados por quem era então aliado do governo, o deputado Roberto Jefferson; ou ainda os "aloprados" -termo que o presidente Lula foi o primeiro, aliás, a empregar- da campanha eleitoral de 2006. Como, também, aquele assessor de um deputado petista, que foi preso ao tentar embarcar num avião com cerca de U$ 100 mil dólares na cueca.

Aliás, se noticiar esse sistema de transportar dinheiro sonante fosse sinal de "guerra de extermínio", seria agora o DEM, e não o PT, a principal vítima de uma suposta conspiração.
Mas nem mesmo os sequazes do governador Arruda arriscaram-se a ir tão longe no cinismo. É que a capacidade petista para a mentira tem origens diferentes, e mais antigas, do que a simples charamela lacrimosa dos espertalhões de voo curto.

Pois o PT, no clássico figurino stalinista, sempre pode dar uma interpretação "de classe" às críticas que venha a merecer. Como o partido se julga o representante místico dos "trabalhadores", o financiamento escuso que receba de empreiteiras, as alterações legais casuísticas que promova em favor de uma empresa de telecomunicação, não representarão escândalo jamais.

Ao contrário: aliar-se financeiramente a "setores do empresariado" que vivem à sombra das benesses do governo, e aliar-se politicamente à escória do Legislativo brasileiro, torna-se um sinal de esperteza política na linha dos fins justificam os meios.

Autoabsolvido pelo venerável espírito hegeliano-marxista da História, o petismo pode fazer tudo o que condenava em seus adversários, e apresentar-se ainda assim como detentor das virtudes mais cristalinas.

Quem apontar a farsa será tachado de inimigo dos trabalhadores -e, na tese de uma imaginária "guerra de extermínio", o PT mostra apenas a sua própria tentação totalitária.

Nessa lógica, que não admite críticas, faz-se de perseguido aquele que se apronta para perseguir; faz-se de vítima quem pretende ser algoz; faz-se de democrata o censor, de honesto o corrupto, de inocente o bandido. O PT perdeu a moral que tantas vezes ostentava quando na oposição. Perdeu a moral, mas não perde o autoritarismo, a mendacidade e a arrogância.

terça-feira, 2 de março de 2010

Entrevista com o sociólogo Demétrio Magnoli sobre racismo no Brasil

Série Artigos Interessantes: Ai que tédio, digo eu

Por Luiz Felipe Pondé (Folha de S. Paulo, caderno Ilustrada)

Por que usar roupa de uma pessoa de outro sexo dá direito a alguém de furar a fila?

TOMO REMÉDIO , faço ioga, meditação, o diabo, mas não adianta. O mundo me obriga a me ocupar com coisas "menores" do tipo a política criando novos seres humanos. Temo novos seres humanos porque são monstros com cara de anjos, prefiro velhos e miseráveis viciados. Não confio em pessoas que não se reconhecem viciadas em algo. Detesto por definição toda política que quer "ensinar o Bem".

Ninguém me engana com esse blá-blá-blá de "voto cidadão". Aliás, melhor seria que o voto não fosse uma obrigação legal no Brasil, pois eu teria melhor uso para os feriados do que esta conversa mole ocupa.

Sei que muitos leitores dirão: "Lá vem o colunista de direita de novo, alguém o faça calar a boca!" Ai que tédio, digo eu. Que mania essa de enquadrar a selvagem multiplicidade do mundo em gavetinhas mentais!

Jurei que não iria falar dessa aberração fascista que é a guinada à esquerda do governo e seus subprodutos do tipo "3º Programa Nacional de Direitos Humanos". Sim, fascismo e esquerdismo são chifres da mesma cabra. Muitos leitores e amigos (tenho, sim, uns poucos) me cobraram um artigo sobre as últimas tentativas do PT de refazer a esquerda "moldando" hábitos e costumes. Resisti, rezei, mas não deu.

Mas voltando às "gavetinhas mentais". Recentemente, vimos um show de sarros com relação à possível candidata republicana à Presidência dos EUA, Sarah Palin. "Burra, tapada, caipira!" Lembremos, caros irmãos, que com o Reagan foi a mesma coisa. "Esse ator burro", diziam. E o cara foi de longe o melhor presidente dos EUA nos últimos 40 anos. Botou a casa em ordem depois dos estragos do incompetente "bonzinho" do Jimmy Carter.

Será que os intelectuais e a mídia não aprenderam a lição? Só porque a mulher escreveu uma singela cola na mão em seu discurso em Nashvil-le, caíram de pau em cima dela. Eu achei até sensual (ela é um avião, as feias devem odiá-la) e puro vintage num mundo onde qualquer matuto brega saca um palmtop quando vai dar conferência motivacional por aí.

Outros, piores, ainda a comparam a integrantes da Klu Klux Klan (KKK). Toda vez que alguém discorda do bê-á-bá da esquerda americana, alguém saca esse lero-lero da KKK. Ai que tédio, digo eu.

Mas voltando à nossa própria cozinha. Nada tenho contra essa invenção francesa de direitos humanos. Tão francês quanto o croissant. Mas, me digam: por que alguém deve ter direito de "furar a fila" porque se veste com a roupa do outro sexo?

Acho que se vândalos espancam alguém porque ele usa roupa de mulher quando nasceu homem, devem ser punidos, assim como quem bate em velhinhas e rouba suas compras na feira deve ir em cana. Mas por que um cara deve ganhar algo do Estado só porque usa saias em vez de calças? E essa coisa de criminalizar linguagem e gestos sob suspeita de serem "homofóbicos"? Daqui a pouco, ninguém dará emprego para um gay porque, se for demiti-lo, poderá ser processado por homofobia.

O controle de linguagem e gestos é claramente prática fascista. Assim como a criação de "cidadãos" intocáveis por serem considerados vítimas a priori.

"Democraticamente", o ideário desses caras que foram "revolucionários" e agora tomam uísque às nossas custas vai se impondo à sociedade. Qual opção nós temos, nas próximas eleições obrigatórias, além de variantes da mesma obsessão esquerdinha aguada? Nenhuma.

Reeditam a culpabilidade a priori de quem ficou rico querendo que paguem mais impostos para que tomem mais uísques de graça (em nome do povo). Ai que tédio, digo eu. Por que taxar as grandes fortunas?

Por que atacar quem move a economia punindo-os porque foram mais competentes nesse mundo cão? Eu também tenho inveja dos ricos, mas tomo remédio todo dia para isso, e vou trabalhar.

E o órgão de controle da "comunicação social"? Esse é mesmo o fim da picada. Dizem que é para combater o monopólio, mas suspeito de que seja mesmo para arrebentar quem não aceitar a "carta" fascista deles e "pontuar" negativamente os rebeldes. Puro chavismo açucarado.

Esse negócio de nos obrigar a ver "produções regionais" é um horror. Por que devo aturar programas chatos só porque quem fez se chama "alguma coisa Silva"? TV deve ser regida por competência, seja "fulano Silva", seja "fulano Smith".

E o MST como "gente boazinha" que só quer o nosso bem? Vão tomar a terra dos outros como se fosse evidente que esses "tomadores" são enviados de Jesus.

Ai que tédio, digo eu.

Carlos Alberto Sardenberg- Governo deveria privatizar somente setores que não funcionam