sábado, 10 de janeiro de 2009

A solução é exportar problemas

Por Dalton Almeida


Há poucos dias atrás, indo me servir de um lanchinho à tarde, encontrei meu pai que, objetivava a mesma coisa que eu. Ele observava o interior da geladeira atentamente, vasculhando suas prateleiras em busca de algo, que não sabia bem o que, mas necessitava para se sentir saciado. Como é de costume nestes momentos, os quais você leitor já deve ter experimentado incontáveis vezes, meu pai não encontrou o que buscava, mas enquanto eu me empanturrava com um delicioso copo d’água, afinal me lembrará de controlar a gula (um pecado que sistematicamente venho cometendo), surgiu um assunto “completamente contextualizado” ao agradável cheiro de mangas amadurecendo, próximas a uma respeitável pilha de louça a guardar, este era: A inviabilidade de se viajar a Marte com a tecnologia atual.
Naturalmente que o objetivo desse texto não é esmiuçar as diversificadas facetas do assunto, então tratado, com naturalidade em meio à fria atmosfera cerâmica da cozinha, e nem acabar com os sonhos dos leigos que acreditam piamente, que hoje, já possuímos tecnologia mais que suficiente para um pulinho ao “Deus da Guerra”, só bastando arranjar loucos que se submetam a meses intermináveis de viagem comprimidos em naves desconfortáveis.
Nem vale a pena citar, portanto, os probleminhas fisiológicos degenerativos advindos da ausência de gravidade, a radiação solar, stress psicológico e da necessidade de uma fé quase religiosa, de que os supercomputadores, sem alma e sentimentos, responsáveis pelos cálculos das coordenadas para a janela de lançamento, não tenham errado em nada, principalmente, pois ao contrário de um pulinho à Lua, à aproximadamente 300.000 quilômetros de distância, Marte é uma longa avenida, com retorno só e exclusivamente no destino.
Mas afinal, o que tem haver um homem olhando para a geladeira e uma viagem a Marte? Bom.... fora o fato de que, com certeza ,os astronautas (ou cosmonautas, caso você prefira a nomenclatura russa ) terão de comer, a semelhança está exatamente na “busca” por alguma coisa, embora não se saiba bem o que. E, é importante destacar, que esta se expressa em muitas outras formas além da gula, sendo a mais comum, a curiosidade.
Esta busca, é a mesma que a Enterprise (de A a E) se engaja “indo onde nenhum homem jamais esteve” (e voltando para contar); é o motivo pelo qual em “Hellboy 2 e o exército Dourado” os homens, como conta a lenda retratada na película, foram a Guerra contra os seres mágicos, numa busca de expressão expansionista. E é também, o “motor que impulsiona” os homens na obra de Tolkien, mesmo com suas vidas “curtas” e almas facilmente “corrompíveis” (em contrate aos Sábios Elfos) a crescerem, desenvolverem-se e evoluírem rapidamente, transformando-se no futuro da Terra Média. E colateralmente expulsando tais sábios, representantes vivos de quando o homem não passava de uma criança, e tinha de ser cuidado, velado e principalmente direcionado. Com a mudança deste último quesito(agora o homem tem uma direção: completar a si mesmo), os Elfos rumam para o mar e inicia-se a Era dos Homens.
É este mesmo vazio, citado nas referências de caráter “Pop” acima, que levou dois ricos países a construir um imenso acelerador de partículas, sob protestos da sempre presente “turma do fim do mundo”, para investigar os segredos mais recônditos da matéria, enquanto na direção oposta, empurra a maior nação do mundo, maior potencia militar do planeta e maior economia global, a investir uma significativa fortuna para planejar o envio de delicados seres de carbono, para fora da proteção terrestre. Mesmo que, internamente, tal poderosa nação, sofra com uma miríade nada desprezível de problemas sociais, que agradeceriam (caso fossem entidades conscientes) a aplicação, neles mesmos, dos recursos disponibilizados a tais empreendimentos dignos de uma “Space Opera” de Ficção Científica. Ainda mais com o fato, de o destino de paradisíaco não ter nada.
Sendo exatamente esta a conclusão, a que cheguava, próximo ao fim da conversa com meu pai:

- “Longe de mim ir contra a exploração do espaço, negando minha paixão pela Ficção Científica, mas talvez por hora, fosse mais importante aos americanos investirem no bem estar interno deles, tendo em vista, uma perspectiva realista, de que não irão ajudar nenhum outro povo ou nação, como é de praxe.
E recebi como resposta:
- “Pelo contrário, temos tantos problemas, está na hora de exportarmos alguns, acredito ser de profunda importância investir-se nisso”.
O interessante, no rápido diálogo acima, é que não me foi necessário mais argumentos, entendi logo de cara o que ele queria dizer. Minha compreensão alcançada em instantes, como se a frase de meu pai funcionasse como uma chave, bebeu nas fontes já salpicadas anteriormente no texto( um “todo” de repertório literário e Pop), referências nas quais não importa o ambiente em que se encontrasse o homem, se é em velocidade de Dobra trocando torpedos fotônicos com Romulanos ou sitiando com suas linhas de infantaria Bara-Dûr, forçando o todo poderoso Sauron a descer para o corpo-a-corpo. O importante, é que o homem, com sua capacidade de se levantar e buscar algo, através de objetivos nem sempre muito claros, se renova, evolui e melhora a si e a existência de todos de sua espécie, direta ou indiretamente.
Marte é apenas mais um objetivo da eterna busca do homem pelo “pedaço que lhe falta”, e que as religiões apontam estar nos céus, em um plano que nenhum Saturno V é capaz de alcançar. Neste contexto, Marte é apenas, mais um expediente, entre muitos outros, pelo qual a humanidade tem uma opção extra de se melhorar,e talvez, por que não, compreender melhor sua pequenez perante a imensa obra de Deus e/ou Big Bang à sua volta, e assim poder acelerar o processo já tão debilitado do "cuidar com amor e respeito de seu próximo", além de tolerar melhor as diferenças.
Com tais possibilidades, os custos da “missão Marte” são uma verdadeira barganha, em que exportamos nossos problemas, na busca de resolver nossa incompletude, com potenciais e preciosos resultados colaterais, aqui mesmo, sob o “azul céu de ozônio”.