quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crônica: O olhar perseguidor

Por Gutierres Siqueira

O olhar me persegue! Não sou comunista, mas tenho mania de perseguição. Na verdade, só me sinto seguido pelos olhos das centenas de anônimos que vejo todos os dias nessa grande cidade. No ônibus ou no metrô, o olhar me persegue. Por que nos transportes públicos? Nesses espaços fico alguns minutos ou até horas completamente parado, seja de pé ou sentado, mas infelizmente nunca deitado. Nesses momentos acontece a cena ontológica: o olhar começa a me perseguir, o meu ser começa a sentir um incômodo ou prazer.

Muitas vezes sou vítima daquele olhar! Ah, como é bom! Normalmente um redondo verde ou azul, sinto prazer ao ser vítima desse olhar. Agora, fico feliz somente quando esse olhar está completo em seu pacote. Se a dona desses olhos faz jus em todo o seu conteúdo. Mas nesse momento vem a preocupação: Esse lindo olhar verde ou azul é de contemplação ou de desdém? Nunca fico sabendo, pois logo que jogo os meus olhos com os dela, ela vira o rosto e não mais retorna. Será que esse virar de rosto é a continuidade do desdém ou uma timidez natural? Não sei. Talvez, não quero saber.

Muitas vezes sou vítima daquele olhar! Ah, como é ruim! Estava dormindo, estava cochilando e quando abro os olhos alguém está me olhando. Sinto-me mal. Por que essa pessoa estava me olhando? Será que eu estava com a boca aberta? Será que eu estava caindo sobre alguém? Quando o sono me controla, não sei o que acontece! Será que esse olhar ria de mim? Não sei, não sei. Pior ainda é quando esse olhar está acompanhado das descrições acima, dos lindos olhos verdes ou azuis, sobre aquele suave rosto... Ninguém conquista outro com a imagem de sono em um ônibus.

Muitas vezes sou vítima daquele olhar! Ah, que raiva! Pessoas que me olham desafiando. Parece que estamos prontos para briga, como os gladiadores do Coliseu romano. Não sei o porquê desse olhar de raiva adversário. Aliás, porque estamos nessas posições de trincheira? Penso que é mania minha, as pessoas me olham feio porque estão estressadas com o dia de trabalho ou simplesmente porque são feias mesmo!

Muitas vezes sou vítima daquele olhar! Ah, que vergonha! Por vezes vejo algumas pessoas olhando para onde não deveriam. Quando vejo essa cena, muitos percebem e logo coram vermelhos como pimentões. Algumas vezes sou eu esse transgressor por meio dos olhos e outros me percebem e me acusam policialmente com aqueles olhos regalados. Então, a vergonha fica à vista de todos! É o famoso olhar panóptico, quem nunca foi vítima dele?

Muitas vezes sou vítima do meu olhar! Ah, como não tinha percebido isso antes. Minha mania de perseguição do olhar é fruto da perseguição velada efetuada pelos meus olhos. Persigo outros e me sinto perseguido. Ora, ora. Nada a fazer naquele ônibus ou metrô, portanto alimento sempre essa mania de olhar!

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Ocidente contra a parede

Por: Dalton Almeida


No ano 600 d.C. a Europa presenciou o crescimento de um imenso império mulçumano, que superou as fronteiras árabes e com a intenção de dominar todas as terras que circundavam o Mediterrâneo, invadiu seus territórios por volta de 711, tomando a maior parte da Península Ibérica. O avanço só parou na Batalha de Poitiers em 732, em que os mulçumanos derrotados pelos francos tiveram seus objetivos expansionistas frustrados. Ainda sim, os reis católicos da europa teriam de guerrar por mais oito séculos para reconquistar seu território.
Essa pequena aula de história é útil para montar um paralelo, novamente o mundo ocidental encontra-se às portas de uma expansão árabe, mas com diferenças gritantes. Os atuais povos árabes mulçumanos, estão desorganizados, embora armados e motivados, e em nada lembram o império invejável, amante das ciências, artes e da guerra, que por oito séculos incomodou a Europa, obrigando-a a se reorganizar e unificar , ou seja, evoluir frente a um competidor externo mais forte, em uma quase corrida de mercado capitalista.
Novamente o ocidente encontra-se em uma encruzilhada, desenvolvido e democratizado, em sua maioria, após dolorosos ou complexos percalços como Guerras Mundiais, investimento de gerações em pesquisa e educação, criação de instituições fortes, defesa de direitos e deveres do indivíduo, entre outros, incluso a benéfica e inegável influência da religiosidade cristã, hoje, vê bater às suas portas, os árabes mulçumanos, uma “organização social” deficiente em questões humanitarias, legais, democráticas, de respeito as diferenças e que dominada por um oligarquia de poderosos religiosos, chefes militares ou ricos comerciantes de petróleo, com a excessão destes últimos, a mesmíssima estrutura à época da expulsão árabe da Europa, se vê sob ameaça de perder sua estrutura interna, conquistada após mais de um milênio.
Ameaça essa que utiliza-se de uma técnica distinta, o uso de direito criado no ocidente, para minar aos poucos a própria sociedade democrática.
A uma primeira vista e em um contexto midiático que bate incansávelmente nas potênciais mundias que intereferem militarmente no Oriente Médio, em especial nos EUA, é dificil enxergar o povos árabes como mais que uma vítima inocente e mal preparada, do imperialismo ocidental e que se defende na busca de paz e auto-determinação, com o que pode, crianças bomba e ataques terroristas.
Ainda que seja dificil, é necessario que se entenda, que o Oriente Médio de inocente não tem nada e, longe de se esquecer os valores ocidentais que balizam nossa sociedade, que são o direito de auto-determinação dos povos, a liberdade em suas várias esferas e o respeito a cultura e a religião alheia, é preciso ter bom senso para perceber quando eles estão sendo utilizados e manipulados contra nós e debaixo de nossos narizes.
E o ponto crucial são as guerras patrocinadas pelos EUA.
A mídia bate sistematicamente nos americanos e defende a retirada de tropas e a liberdade dos países sob intervenção, mas esquece os motivos de tais intervenções. Os americanos, entre outros ocidentais, foram atacados de forma covarde, por grupos terroristas patrocinados por governos arábes e com livre circulação e atuação em seus países de origem. Isso não acontece no ocidente, aqui não há grupos terroristas apoiados por democracias e que pregam a morte de civis inocentes em outros países. Aqui, no geral, domina o sentido de responsabilidade e de respeito a vida, seja ela a favor ou não das ideologias dominantes. A diferença é que os americanos, como o resto dos ocidentais, não sofreu os ataques e deixou por isso mesmo, eles foram em busca de uma solução.
Não negarei aqui que a estabilidade no fornecimento de petróleo do Oriente Médio para o ocidente não seja uma preocupação americana, é óbvio que é, o mundo com a globalização reduziu-se e a interdependência aumentou, o que faz do fornecimento de petróleo um elemento de sobrevivência e estabilidade para grandes países consumidores de energia.
Mas é fato, se esses países sob intervenção fossem levemente mais democráticos e estruturados, primeiramente não teriam sido invadidos, pois hoje não existem guerras entre democrácias e, se alguma potência tentasse, a oposição interna e externa seria um empecilho quase insuperável, visto a dificuldade de se justificar uma guerra contra um país democrático, legitimamente eleito e portanto que tem vias diplomáticas para negociações. Não é o caso do Iraque, que foi invadido ainda que a ONU fosse contrária.
Secundariamente a manutenção do “status quo” da economia mundial, também seriam uma preocupação para estes países, o que faria com que o ocidente não se preocupasse com a manutenção do fornecimento de petróleo, pois ele ocorreria naturalmente, através das vias comerciais, ganhando o vendedor e o comprador. Ou seja, os americanose todo o ocidente não precisam roubar o petróleo de ninguém, podem pagar por ele, e caro aliás, mas precisam de quem venda.
Só que isso não é garantido, visto que a grande massa das populações dos países arábes mulçumanos, não-democraticos, são reféns de uma situação lamentável de desenvolvimento e marginalizadas da dinâmica capitalista mundial, devido a estrutura política e de poder reinantes, que permite a seus líderes religiosos e militares extremistas, uma condição favorável única para chantagear o ocidente com a não venda de petróleo e ainda utilizar os recursos obtidos com a venda em planos para destruir os compradores.Seguindo seus interesses ideológicos, pessoais ou religiosos, sem que suas populações se revoltem, pois no geral não são beneficiadas com os valores das vendas e ainda são educadase induzidas a culpar os “demônios ocidentais” pelas mazelas inflingidas por eles (os líderes locais).
Sendo a única excessão os ricos “shakes” do petróleo, que por quererem gastar “seu dinheiro” no melhor da sociedade capitalista, ironicamente, são elementos de estabilidade nas relações ocidente-oriente, visto o interesse que tem na venda do ouro-negro e na estabilidade das relações diplomáticas, embora isso não os impeça de criarem cartéis para manipular os preços do petróleo e concentrarem a riqueza apenas em suas gordas contas.
Quanto as intervenções militares ocidentais própriamente ditas, estas são inegavelmente mais justas em questão de tratamento ao povo local do que as administrações oligárquicas anteriores, pois tem de prestar contas a contribuintes, politicos, jornalistas, sociólogos e muitos outros profissionais de sociedades de moral judaico-cristã, humanitaristas e que votam na manutenção dos seus chefes–militares máximos em exercício,ou seja, os presidentes e primeiros ministros nacionais ocidentais.
Obviamente não quero dizer que em guerras não existam baixas, elas são inevitáveis, mas a opção seria a continuidade do status anterior e ele não seria sem baixas, tendo o ônus de ser em estado indefinido e estático.
Ainda há o aspecto técnico, as intervenções pretendem democratizar e estabilizar, entendendo que para isso tem de reconstruir a estrutura social. Se não fosse este importante detalhe, “o interesse por reestruturar e melhorar os países invadidos”, as guerras já teriam terminado, bastaria o aniquilamento de todos os indivíduos sob ocupação, uma forma de guerra completamente inadimissivel no ocidente, que até para guerras criou regras, nas Convenções de Genebra, embora não o seja para os extremistas islâmicos, com suas promessas de holocaustos.
Portanto é pura demagogia, feita por uma incrível parcela de ditos sociólogos e humanitaristas, defender a livre-determinação dos povos árabes mulçumanos, visto primeiro que estes povos estão sob a mira do rifle de um ditador, ou seja, não são livres, ainda menos livre-determinadores, e segundo, esses mesmos países com “livre-determinação” investem em tentar derrubar os países democráticos que são os originais defensores da idéia de livre-determinação. Basicamente a defesa demagógica é um tiro no pé, praticamente o mesmo que soltar um leão faminto em uma sala em que está só com ele.
Naturalmente nem todos os países árabes enquadram-se no grupo dos intervencionáveis, mas os atuais, Afeganistão de um governo teocrático radical que oprimia a população e patrocinava terroristas e Iraque de um ditador genocída que não só oprimia a população como desestabilizava a região, com certeza estão sob administrações com intenções melhores que as anteriores, administrações atuais que pretendem democratizar e reestruturar os países, ainda que para isso tenham que eliminar imensos contingentes de partidários dos regimes anteriores que não poupam a própria população local na sua busca de poder.
Não nego que as administrações beneficiarão mais que apenas a população local, sendo a estabilidade da região positiva para os preços e a exportação de petróleo, mas, isso não desqualifica o serviço prestado, e garante a todos algum bônus, aos ex-oprimidos um potencial futuro melhor e aos compradores de petróleo um preço sem altas variações devidas a falta de estabilidade, criada por grupos extremistas e pouco preocupados com o povo que administram.

Chegamos então ao principal exemplo de uma ideologia positiva do ocidente utilizada contra ele próprio, “a defesa da livre-determinação dos povos”, pois é pregada de forma cega.
Não defendo que nos esqueçamos de que todos tem liberdade de se auto-determinar, e sim que não nos esqueçamos que a liberdade de um termina nos direitos do outro. A sociedade árabe pode se determinar, desde que nesse processo, não tenha como foco, derrubar a sociedade ocidental ou querer impor seu barbarismo além das próprias fronteiras. Não é aceitável ou certo concordar impassível com a administração de líderes que defendem um novo holocausto judeu, como o líder do Irã, morte ao ocidente como a média dos líderes religiosos mulçumanos no poder, destruição ao cristianismo entre outros absurdos. Quem defende estes líderes, em uma sociedade ocidental livre, deveria ser indiciado por apologia a crimes contra a humanidade, por que é exatamente o que está fazendo. Afinal, não seria indiciado alguém que defendesse em praça pública o extermínio/ assassinato de judeus, imigrantes entre outros e se organizasse, preparando-se para tal?
Em resumo, as intervenções militares ocidentais no oriente não devem ser vistas como pontuais. Elas não são as primeiras e não podem ser as últimas. Os países arábes sob domínio de grupos extremistas islâmicos,não irão parar ou arrefecer, seus objetivos são grandes e seus líderes não economizaram em técnicas para destruir o ocidente, qu suicída, os deixa agir quase livremente. Retirar as tropas de intervenção hoje no Oriente Médio, é assinar um atestado de incapacidade de reestruturar um lugar que a séculos, desde a queda do império mulçumano, está desestruturado, e mostra-se claramente incapaz de desenvolver-se em direção a democracia, aos direitos e a busca de uma menor desigualdade social. Isto pois está engessado cultural, religiosa e socialmente, com fracos sempre fracos e manipulados demais e ricos, graças a sede do ocidente por energia, que nadam em lucros sem ter que fazer nada para ajudar seus povos.
A Europa a séculos viu um império invádi-la e por séculos teve de lutar e morrer para se libertar. Hoje o mundo ocidental tem duas opções, sentar e esperar que os “loucos, terroristas e mártires” atravessem a fronteira, para, ai sim, ir a guerra pelo que já era seu, ou hoje, enquanto ainda temos força e recursos superiores ao inimigo declarado, democratizar e civilizar àqueles que reféns de líderes não-democráticos, são preparados abertamente como o exército para nos destruir. Obviamente o dito “respeito pela cultura” terá de ser flexibilizado, pois não é aceitável respeitar “uma cultura” do “destruir o ocidente/ diferente/não-islâmico”. A guerra é inevitável, mas o número de baixas e o futuro de ambos os lados pode ser mínimo e brilhante, depende de coragem de nossos líderes, atenção de nossa fiscalização e a noção de que o politicmente correto, nem sempre é o estruturalmente funcional ou viável.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O jejum de Evo Morales

Por Gutierres Siqueira

O esquerdismo latino-americano sofre de uma síndrome aguda do “coitadismo”. Sempre a culpa é externa, seja dos imperialistas ianques, dos imperialistas brasileiros ou da oposição golpista. O último a expressar sintomas dessa síndrome foi o presidente da Bolívia, Evo Morales. Os governantes da esquerda latina sempre bradam: “Não conseguimos conduzir essa nação, mas a culpa é deles”.

Morales mantém uma greve de fome para aprovação no parlamento da nova Lei Eleitoral. Um dos pontos dessa nova lei inclui eleições para o final do ano, que beneficiaria o líder boliviano e bolivariano. Para pressionar os deputados oposicionistas, Morales mantém o jejum regado com folhas de coca, bolachas e água.

O presidente não procura negociar com a oposição, em respeito às instituições do seu país, mas prefere uma greve de fome para chantagens junto à opinião publica. Sendo assim, acusa todos os que contrariam suas idéias de golpistas ou outros adjetivos pejorativos. Nesse domingo voltou a afirmar, em entrevista, que os Estados Unidos e a “direita fascista” planejam seu assassinato.

Não assumindo suas responsabilidades, a liderança coitada acaba provocando instabilidades em seus países e ainda mantém uma popularidade alta ao transferir culpas. Essa técnica tem funcionado muito bem, pelo menos num primeiro momento, nos países da América Latina.
No Brasil, o apóio do Partido dos Trabalhadores (PT) ao boliviano, mostra como o governo considera normais essas atitudes infantis para um chefe de Estado. O presidente brasileiro Lula da Silva também sofre da “síndrome coitadista”. A marolinha da crise é culpa dos homens “brancos de olhos azuis” e o atraso do PAC é resultado de prefeituras sem projetos. Lula ainda mantém a tendência de acusar outrem por sua própria ineficiência.