segunda-feira, 7 de setembro de 2009

É assim tão grande o sacrifício?


Por Dalton L. C. de Almeida


“A raça humana está prestes a ser extinta. Restam-nos 50 mil pessoas, e só. Agora, se nós vamos sobreviver como espécie. Precisamos sair logo daqui e começar a ter bebês".


Está foi a frase da recém empossada presidente Roslim, a mais nova executiva da imensa civilização dos Coloniais, outrora dona de 12 planetas (colônias) e composta de bilhões de eleitores, repentinamente mortos ou morrendo sobre um pesado e eficiente ataque nuclear inimigo, que de uma vez só, em apenas algumas horas, apresentou à humanidade o extermínio como única saída, além é claro, da fuga.

Esta triste fala (tremendamente) bem interpretada, é apenas uma parte dos muitos outros problemas que seriam enfrentados pelos coloniais na mini-série Battlestar Galactica (2004 - posteriormente estendida em mais quatro temporadas), agora reduzidos a um povo sem casa, espremido em um punhado de naves e sem condições mínimas de sobreviver, quem dirá, trazer com conforto e segurança ao “mundo”, delicados e rechonchudos rebentos.
Em situação pior encontravam-se os personagens de “Filhos da Esperança” (2006), que gozavam da experiência de viver em um mundo ensandecido pela própria falta de expectativa, onde a inexplicável infertilidade de todas as mulheres do planeta congelou as perspectivas de futuro da humanidade e gradualmente destruiu o que chamamos de civilização. Mas resta uma esperança... assista ao filme!


E o que 50 mil almas enlatadas no espaço têm haver com milhões de almas presas em um planeta azul de nome Terra, coberto por seres humanos estéreis e que aguardam “pacientemente” o ocaso da humanidade se aproximar, minuto a minuto, nos dentes polidos e impiedosos do tempo?

A necessidade de bebês! Óbvio (sequer tentei esconder isso de você caro leitor)
E o que estes quadros desagradáveis têm haver com nosso tempo? Em época de países super povoados, campanhas de controle de natalidade e da moda do filho único?

Tudo!E a Folha de S. Paulo de ontem (6/09/2009), em sua matéria “
Brasil fez em décadas o que a Europa levou séculos para fazer” arranha a superfície de um problema, já há muito entre nós, e do qual gostaria de tratar brevemente.

A notícia cita o mais novo dado de natalidade por mulher no Brasil, que alcançou a média de 2,1 e também explicita o impacto disso, ao explicar com didática o Modelo de Transição Demográfica (MTD), proposto em 1929 por Warren Thompson, e que prevê com desagradável precisão as “fases” das dinâmicas de crescimento populacional em um país, quando diretamente relacionadas com seu status econômico.

De qualquer forma o que interessa é que o Brasil se igualou a Europa. Bom não é?
Agora só falta que nos igualemos a todo o amplo espectro de assuntos que fazem da Europa um local invejável. Seja nos âmbitos culturais, tecnológicos e sociais, pois no aspecto da falta de visão de futuro ancorada na mais simples, embora não menos importante unidade social, a família, eles optaram por falhar estupidamente. E condenar seu próprio futuro... ou melhor... o nosso também, pois cegamente seguimos o exemplo. Então, se é para desaparecermos, precisamos a partir de agora nos esforçar, para deixar vestígios arqueológicos exemplares, afinal os atuais são uma verdadeira vergonha.

Entendeu? Não? Pois então continue...

A Folha de S. Paulo, informa que nos encontramos na fase 3, configurada basicamente pela redução nas taxas de fecundidade, explicadas por diversos fatores, em especial pela urbanização, que retira a utilidade prática de crianças no dia a dia, pois não são mais úteis para trabalhos como carregar lenha e água para a família e nem como salvaguardas na velhice, visto que os pais têm acesso a sistemas de previdência. De forma que alimentar, vestir, cuidar, educar entre outros muitos e nada baratos gastos, torna-se um investimento nem um pouco atrativo.

Até este ponto a Folha foi muito política e avançou a explicação ao próximo passo/fase brindando o leitor com a perspectiva nada animadora de um cenário onde a população não só para de crescer, como começa a diminuir, ceifada pelo tempo, e o país é “invadido”, pela mão de obra importada, vulgo imigrantes, que causam uma série de problemas sociais, o mais famoso deles a xenofobia, por parte da velharada encarquilhada e desdentada que ainda vivente e da juventude inexpressiva e irrelevante para a manutenção de uma população “pura” e “original” de locais.

O que faltou a Folha? Simples. Dar uma solução ao problema. E por que não o fez? Também simples. Vai contra a dinâmica atual de mundo, que prega o “EU, Eu mesmo e Eu ainda mais porque a Irene custa!”

A verdade é que o egoísmo e falta de bom senso social em escala individual, está levando o Brasil e todo o Ocidente a um erro que a andropausa, menopausa e envelhecimento dos óvulos femininos com a idade, tornarão impossível de corrigir na última hora. O ocidente está cometendo, no pior de sua tradição, um auto-holocausto.

No passado tinham-se muitos filhos por suas utilidades na vida diária, seja no campo, seja nas cidades (ainda não muito urbanizadas) e porque a morte de crianças era algo comum. Ou seja, se garantia na quantidade de filhos a força de trabalho e a seguridade da velhice em um intuitivo jogo contra as probabilidades.

Com a urbanização, avanços da tecnologia, saúde e a elevação do “EU em prazer” ao pedestal do sacrossanto objetivo da vida ocidental, os filhos tornaram-se adornos ou simplesmente o componente final de uma longa lista de requisitos que variam desde objetivos profissionais femininos e masculinos, concentração de riqueza e bens, até o aproveitamento de prazeres que responsabilidades como as crianças, tornariam um risco elevado demais. (pára-quedismo esporadicamente ou não, é um exemplo).

Como último detalhe de uma longa tabela de realizações pessoais, estes “objetivos” de alto custo, tendem a ser incorporados a dinâmica familiar da forma menos impactante possível. Em miúdos, no menor nível possível, sendo zero um número válido. E que não obrigue os pais a uma redução de seu nível de conforto tão merecidamente conquistado.

Assim quando adicionadas ao núcleo familiar, tal criança, quando em lares com posses em grau significativo, tende há ter seu tempo e sua vida inundados com tudo do “bom e do melhor”.
Obviamente que podemos analisar a super fartura de opções ao(s) rebento(s) por dois ângulos distintos e que não são excludentes. Os altos gastos são a forma de providenciar a melhor educação, conforto e qualidade possíveis para um futuro e produtivo membro da sociedade e também podem ser, ao mesmo tempo ou não, a nova vitrine de ostentação, pois ter dois “carros do ano” iguais para mostrar para os amigos é idiotice,então, porque não declamar por minutos a fio toda a miríade de investimentos culturais, esportivos, técnicos e supérfluos dados ao filhote?

E ai está o ponto crucial do suicídio social do ocidente. A pequena quantidade de filhos. Principalmente nas famílias mais abastadas.

Em resumo, não é necessário ser o “Ás” da matemática para chegar ao cálculo de que se cada dois seres humanos, que formam um casal, produzem apenas um filho. A quantidade de pessoas a ter que bancar o sistema de um país através de impostos e trabalho no futuro, cai pela metade. Se tiverem dois filhos, praticamente a média máxima (e que obviamente não corresponde necessariamente as famílias de maior renda), a população jovem ficará em paridade temporária com a população economicamente ativa. E assim só continuará se todos os velhos atuais caírem mortos, antes que seus pais, tornem-se os próximos responsáveis por pressionar os sistemas de saúde e previdência.

O futuro do ocidente europeu, se delineou há muito tempo, e o europeu preferiu viver a vida dele, dar do melhor a seus filhos únicos e dar de ombros com a perspectiva de que seu filho teria de trabalhar muito mais que ele para manter a máquina de seu país funcionando. Tudo isso, claro, para que ele pudesse desfrutar do máximo que a vida pode lhe dar de prazer e seu filho pudesse ter o máximo que ele pode dar.

O futuro do Brasil seguirá o mesmo rumo, mas ele será pior, pois nossa infra-estrutura previdenciária é menos forte,nosso mais é mais corrupto e nossas diferenças sociais mais profundas.

Hoje a Europa envelhece e paulatinamente é substituída por populações de países pobres e que não tem a preocupação doentia pelo prazer e pelo melhor. E sim que não fazem controle de natalidade por motivos culturais ou porque preferem ter muitos filhos a apenas um “supermimado”.

O brasileiro hoje, em especial com condições, deveria pensar de forma menos egoísta e simplista, tendo tantos filhos quanto suas condições econômicas permitem, dando-lhes uma educação descente e digna, saúde, diversão de qualidade e tudo sem desperdício. Pois uma criança não precisa do último "Max Steel Cromado com LED e que grita” para ter um desenvolvimento cognitivo positivo. Precisa é de pais que estejam minimante presentes, amigos, jogos educativos e brinquedos dos mais simples e baratos. Tornando-se na maturidade, junto a seus muitos irmãos, o produtivo ser humano que a sociedade tanto precisa e que irá garantir seu progresso.

Infelizmente na sanha de dar “do melhor” aos rebentos, por motivos muitas vezes dúbios, o ocidental esquece que sua história como civilização não foi montada baseada sempre na obtenção máxima de prazer pessoal, e sim, na maioria das vezes, baseada na doação a comunidade e ao futuro dela. Filhos educados e saudáveis são o futuro de um país e a manutenção de uma herança de gerações, que muitas vezes optaram por não "viajar a passeio" para que os filhos pudessem estudar e que não tinham como valor, não ter filhos, interrompendo suas “dinastias” apenas para portar e ostentar coisas como uma foto no Orkut, como prova de ter ido a algum ponto turístico de alcance monetariamente dispendioso.
Basicamente, o futuro e sua manutenção se dará pela lógica em desuso, do sacrifício em nível pessoal, que hoje nem é assim tão doloroso , visando o bem da maioria, pelo simples ato de "doação" de bons e muitos filhos a sociedade. E quem sabe, daqui 60 ou 70 anos, posamos dar do “bom e do melhor” para não um, mas para tantos filhos quantos a nação tiver, sem prejuízo ao seu presente e a seu futuro. Alcançando o vitorioso patamar que os Europeus chegaram tão perto e que os "Coloniais" e a "humanidade estéril" das obras de ficção citadas sequer tem perspectivas de alcançar.

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