sábado, 13 de junho de 2009

A mania de favelização dos filmes brasileiros

Por Gutierres Siqueira

Carandiru, Central do Brasil, Cidade dos Homens, Era Uma Vez, Linha de Passe, Meu Nome Não É Johnny, Tropa de Elite, Última Parada-174 e tantos outros filmes brasileiros de sucesso focam sua temática nas favelas, presídios e pobreza. Sucessos em bilheterias, tais longas-metragens mostram mortes explícitas, sexualidade não erótica, pobreza do país e as mazelas da sociedade brasileira, assim como traços do caráter nacional.

Os cineastas brasileiros parecem que sofrem da síndrome Glauber Rocha, pois estão incumbidos de uma missão divina em promover a justiça social por meio dos filmes e produções na TV. Talvez, pessoas como Regina Casé façam escola entre os produtores de filmes. Baseados na tríade “menos custos, mais realidade e mais conteúdo”, esses cineastas buscam apresentar um face não agradável da sociedade brasileira, para comover a opinião pública e talvez mudar essa realidade.

Algumas perguntas precisam feitas sobre o cinema “favelizado” no Brasil. Primeiro, se as pessoas vão ao cinema para entretenimento ou reflexão crítica da sociedade sob um viés normalmente ideológico. Segundo, se realmente nesses longas-metragens não há na verdade uma exaltação da miséria, como um estilo de vida cultural que deveria ser apreciado de forma romântica. Terceiro, se os filmes não acabam repassando uma imagem bem negativa do Brasil para outras nações. Quarto, se os filmes não acabam alimentando um imaginário de lutas de classes de um víeis marxista simplista etc.

Muitos pensam que mostrando favelas em filmes talvez contribuam para a melhoria do país. Ledo engano. O excessivo consumo do dito capitalistas selvagens, que enchem as filas das salas de cinema para assistir traficantes matando criancinhas ou moradores de favelas sendo mortos por policiais corruptos, simplesmente não fazem nenhuma justiça, mas podem inclusive trazer um efeito oposto: a barbárie sendo vista como civilização.

Os cineastas antropólogos da escola de Rousseau acreditam piamente que o homem nasce bom, mas a sociedade marginalizadora e elitista o corrompe da pior forma possível. Assim, tentam inconscientemente justificar os erros cometidos por muitos bandidos, como no filme Última Parada- 174. Ou mostram os meninos pobres como potenciais bandidos simplesmente por não terem acesso ao bom ensino das escolas particulares. Será que essas pessoas não possuem liberdade de escolha e não entendem a diferença entre a dignidade na pobreza e a bandidagem enganosa do dinheiro fácil? Parecem que os personagens pobres são tábuas rasas moldados pela sociedade que não dá oportunidades.

(Obs: Texto completo com o título "Todos querem ser um Glauber Rocha" foi publicado na Revista IKONE, uma produção acadêmica para aulas do 5º semestre de jornalismo)

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