sábado, 15 de novembro de 2008

Banhemo-nos em sangue de criancinhas e que viva a liberdade!

Por Dalton Almeida

Sistematicamente durante minha breve e até o momento improdutiva vida acadêmica (bibliograficamente falando, é claro) tenho tido o prazer de discutir um dos assuntos, a meu ver, mais incompreensivelmente polêmicos no hall de “assuntos polêmicos”, o aborto.
Naturalmente que você leitor deve se perguntar: - “Como assim incompreensivelmente polêmico?” - “Ele bebeu?” – “Ele fumou?” ou “Será que ele não se importa com o direito da mulher sobre seu corpo?”, o que normalmente leva a maioria estatística de meus contatos sociais para conversas ocasionais a pensar (ainda que não admitam) “Fogueira! Fogueira! Fogueira!” (e o que também é muito provável no seu caso).
Bom... tentarei ser direto: Não bebo (sou contra álcool, puramente por motivos estatísticos); não fumo (sou contra, por motivos estatísticos equivalentes ao “caso álcool”) e defendo que os direitos de um indivíduo se estendam só até onde começa os direitos de outro indivíduo, sem contar minha concordância com detalhes como a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, uma série de convenções éticas, morais, práticas, de bom senso e de defesa a vida. Nem vou entrar no contexto religioso, quem sabe um próximo post, em uma próxima vez....
Voltando... Considero este um assunto incompreensivelmente polêmico por que em todas as perspectivas possíveis o aborto é um assassinato deliberado e/ou uma vingança digna das mais bárbaras, estúpidas, subdesenvolvidas e pagãs “sociedades” tribais, excluindo-se apenas um caso, que não é vingança e sim apenas: “assassinato deliberado visando redução das perdas” (que explico no final). Trocando em miúdos, sou contra assassinatos de qualquer tipo, e o de potenciais criancinhas humanas consta no topo da minha lista.
Agora que apresentei de forma prolixa minha opinião, vamos às argumentações, espero conseguir desenvolvê-las a contento, costumo “oraliza-las” entre uma e outra interrupção ou grito de repúdio ou ameaça de morte, o que faz do Blog e sua liberdade sem interrupções, algo novo, e pelo que já deu para perceber, altamente “desconcentrante”.

Argumentações:


Primeiramente vale a pena deefinir o que vem a ser um "bebê":
Em termos técnicos é a “fase” mais dependente do ser humano, em que ele necessita de indivíduos para sua sobrevivência (alimentação, higiene, locomoção e outros), normalmente esses indivíduos são os pais ou equivalentes (com mais ou menos afeto) e em raros casos podem ser animas (vide lendas) como no caso dos irmãos Rômulo e Remo e do(s) Mogli (s) (tente não pensar no Baguera...pode estragar a seriedade da discussão). Em geral bebês são seres dependentes de adultos para sua sobrevivência, embora sejam portadores de um código genético exclusivo e completo, que rege todas as suas funções bioquímicas e de desenvolvimento mais básicas, o que garante a estas pequenas massinhas de carne fofinhas uma potencialidade de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem, que gerará mais um exemplar do ápice do desenvolvimento biológico no Planeta Terra: O ser racional (em geral) e com noção de sua existência e iminente morte, costumeiramente conhecido como “Homo Sapiens” (agora pegou de onde vem o “Homo” do título do blog não é?).
Então... tanto o bebê (já nascido), como um feto (bebê em formação e ainda não nascido) ou como o zigoto, resultante da fecundação de um óvulo que se “prende” no endométrio feminino para começar sua diferenciação celular, todos estes possuem o mesmo código genético, com potencialidades e futuro brilhante de reações bioquímicas que podem gerar desde um novo Adolf Hitler a até um novo Thomas Edison ou Linus Pauling ou com os desvios certos (de ordem social) a nova “Lacraia”. Independentemente do destino resultante, na média, os humanos tem o péssimo hábito de alcançar a maturidade, quando e apenas quando, outros seres humanos não agem deliberadamente para impedi-los (e nisso o bicho Homem é criativo), através de Guerras, violência, assassinato, psicopatias assustadoras e a até os impensadamente autorizados abortos.
Também é importante destacar que o bebê é uma unidade totalmente "independente" do corpo feminino durante a gestação de nove meses, que para facilitar a discussão chamarei de “tempo de hospedagem”, onde a mãe não passa de um hotel com aquecimento, alimentação, “arejamento” , proteção e exposição a estímulos sonoros externos. A massinha de carne é possuidora de um sistema circulatório, respiratório e neurológico, totalmente independentes. Mais ou menos como um hóspede em um hotel barato de estrada. Com a diferença que ainda estou para ver um grupo de malucos apoiando o direito do dono destes tipos de estabelecimento matar seus hóspedes, por um motivo arbitrário qualquer, como por exemplo, algum crime cometido por um parente destes e que os hóspedes não tem conhecimento ou participação.


Assim, definido o que é um bebê e o que é uma mulher do ponto de vista do primeiro (um temporário envoltório físico de proteção e alimentação), vale a pena discutirmos os pontos mais polêmicos da defesa do aborto:


- A mulher tem direito ao controle de seu corpo:
Opinião do “escritor” (OE daqui em diante): Concordo plenamente, mas isso não lhe dá direito de vida e morte sobre a individualidade independente que está se hospedando temporariamente em seu interior e que não tem como opção a “realocação” em um útero mais interessado. Como já disse no início do texto, os direitos de um, só vão até onde começa os direitos dos outros, isso está, se não me engano, em algum "parágrafo de discussão" do “pacto social”, a mulherada favorável ao aborto e os defensores de assassinar criancinhas deveriam conhecer “o texto”.


- A mulher estuprada tem direito a não querer o filho do estuprador:
OE: Concordo plenamente, a mãe tem todo o direito de rejeitar uma nova vida, que tem 23 de seus 46 cromossomos com origem no seu próprio código genético (código de origem materna), mas daí o “rejeitar” ser ampliado para o “despejo” (assassinato)vai uma distância abissal. Ou seja, não querer ter que cuidar, alimentar, educar, levar na escola, dar beijinho de boa noite, contar histórias, levar no zoológico e comemorar aniversários, OK não o faça, doe para quem adoraria fazê-lo, mas é incapaz de produzir o “milagre da multiplicação independente de células com potencial humano”. Assassinato não é uma opção.......ou será que a partir de agora iremos matar os filhos dos assassinos, como vingança pelos crimes cometidos pelos pais, prender os filhos dos assaltantes e perpetrar toda a sorte de vinganças possíveis contra pessoas inocentes, só por que alguém pretende se sentir melhor ou vingado (a)? Será que já não basta termos que arcar com a expulsão do Paraíso dia a pós dia (ops....disse que não ia entrar no aspecto religioso....desconsidere a citação à nossa realidade de penitência).


- Um feto não é gente, até ter X semanas, Y desenvolvimento do sistema nervoso e Z atividade bioelétrica.
OE: Aqui vejo algo perigoso, conhecido juridicamente como “precedente”. A ciência hoje (leia-se um setor desta) tenta definir arbitrariamente a partir de que estágio do processo de diferenciação celular já alcançamos o status de “gente”, e assim justificar o despejo de uma potencial vida. Por isso reforço: com ou sem braços, com ou sem cérebro plenamente formado, com ou sem coração funcional, com ou sem sistema nervoso atuante, com ou sem “meio quilo”, desde o maior dos halterofilistas ao menor e mais torto dos Stephen’s Hawking’s , todo ser humano parte de 46 cromossomos em um código genético auto-replicante, a definição do que “é gente” está no DNA (e olha que tem exceções que cruzam conosco dia a dia e também tem status de gente – 47 cromossomos como no caso da Síndrome de Down- aliás concordo plenamente que são gente – entre outros exemplos).
O perigo no precedente mora exatamente em sua utilização por outros. Por exemplo: na Alemanha Nazista, ser Judeu era motivo para perder o direito a vida, ser deficiente também, mas no início não sairam matando os Judeus, primeiro os classificaram como diferentes por serem Judeus, depois os fecharam em guetos e por fim os transportaram para as fornalhas, covas coletivas entre outros. O mundo teve de ir ao front e chorar por milhões de mortos para que as atrocidades nazistas e seu "modus operandi", não se transformasse na metodologia social padrão do mundo, e agora, cientistas de meia pataca, consideram-se no direito de definir quando temos o direito ao título de “gente”. É incrível como a sociedade esquece rapidamente que a ciência e seus seguidores são práticos, e a sua ética não nasceu com suas pesquisas, será que ninguém lembra do "exemplo" de ética médica que foi Josef Mengele? (realmente difícil não citar as origens religiosas da ética e do respeito a vida – caro leitor, não me obrigue a citar a primeira experiência de transfusão de sangue feita pelos médicos, para mostrar como ética e ciência são um casamento recente).
Em resumo: desconsiderar arbitrariamente os direitos das crianças não nascidas, só cria precedente para começar a analisar seres já nascidos por meios tão arbitrários quanto, daí a possibilidade de um “divertido processo de eugenia” ser aplicado por um grupo politicamente mais forte, pode ser uma questão de tempo. Com as “boas intenções originais” caindo do telhado.


- Em caso de risco de vida para a mãe o aborto terapêutico é aceitável.
OE: Não posso considerar nenhum tipo de aborto aceitável, mas, este é um caso de assassinato deliberado visando redução das perdas, se não há o que fazer, não há o que fazer. Antes salvar mãe do que o bebê, não por que o bebê mereça menos, mas por que entre salvar a potencialidade de uma vida que corre altíssimo risco de morrer ao nascer levando a mãe, e a preservação da vida de uma potencialidade em sua plenitude, a opção lógica (e não religiosa) é pela mãe.
Basicamente estes são os principais pontos, a meu ver, objetivando a defesa da proibição do aborto e como este é absurdo, mas se você leitor conhece algum outro ponto importante e que eu não tenha abordado, ou tenha uma boa argumentação que contrarie a lógica de minha argumentação, fique a vontade para comentar, adorarei adicionar sub-postagens aprofundando o assunto.

Por fim, se você conseguiu chegar até o fim, meus agradecimento por sua paciência. “Isto fica feliz em ser útil” :D
E se ainda sim, nada do que disse foi suficiente sequer para fazê-lo parar para pensar, então: Banhemo-nos em sangue de criancinhas e que viva a liberdade!


3 comentários:

Quero Mais MPB disse...

Dalton, eu tinha certeza sobre a defesa de alguns pontos em relação ao aborto, como: estupro e risco de morte da mãe.Sempre defendi esses pontos por pensar como mulher, mas, depois de ler seu post, confesso que passei a pensar como ser humano que sou antes mesmo de ser mulher, e pode ter certeza que apartir de hoje (após a leitura) meus pensamentos sobre aborto são outros!!!
Valeu por me fazer refletir :)

Anônimo disse...

Caro Dalmo, Paz e Bem!

Belíssima argumentação!

Quanto a filhos de estupros, é uma injustiça o aborto, pois este faz pagar pelo crime quem não o cometeu. Não existe isso de querer apagar um fato do passado eliminando as conseqüências deste. Ainda mais quando a conseqüência é um ser humano, detentor de direitos, dentre os quais o primeiro é o direito à vida.

No caso de risco de vida para a mãe, conversando com qualquer médico sério, é possível saber que conta-se nos dedos de apenas uma mão os casos em que verdadeiramente se poderia chegar ao dilema de eliminar um dos dois. Esse risco é mínimo, se considerarmos os recursos de que a medicina moderna dispõe. Em todo caso, acrescentaria que independente de quem tem mais chances de vida, se o feto ou a mãe, o mesmo esforço deve ser feito para tentar salvaguardar a vida de ambos. Qualquer médico que se preze fará isso por fidelidade ao juramento que prestou, e evitará, assim, colocar o pai da criança no dilema de escolher entre a vida de seu filho ou sua esposa.

Obrigado por sua visita no Palavras Apenas.

Paz e Bem!

Unknown disse...

Eeehh.. não mudou o meu jeito de ver a coisa...
Ponto de vista referente ao aborto em caso de falha humana no controle da concepção eu aceito, agora, querer negar aborto a uma mulher estuprada eu acho um absurdo.
Não é matar o filho do estuprador por ser cria desse ser humano medonho. Imagine-se carregando um feto por nove meses, tendo aquele lembrete diário do horror que você passou e ainda por cima o fruto do ato nojento desregulando seus hormônios e estourando o seu corpo. Negar aborto a mulher estuprada é declarar que ela merece uma pena eterna, com regime fechado por nove meses e perpétua em semi-aberto por TER SIDO estuprada.
Mesmo que o recem nascido possa ser colocado para adoção, nenhuma mulher merece esse processo que pode levar ela a loucura ou disturbios psicologicos profundos. O estupro em si já vai ser um trauma eterno.