sexta-feira, 11 de junho de 2010

A crise da imprensa

Por Gutierres Siqueira

O desinteresse pela leitura e a ascensão da internet são os grandes desafios dos jornais impressos neste início de século. Acadêmicos, jornalistas e empresários discutem caminhos e soluções para a nova realidade, já que é preciso disputar espaço com as novas mídias eletrônicas e enfrentar a falta de leitores. Com a queda das tiragens, os jornais encaram a dura realidade de perder receitas em publicidades e o próprio consumo do produto.

O jornal impresso, como qualquer bem cultural, não é possível de ser mantido sem financiamento. A publicidade, as assinaturas e as vendas nas bancas e livrarias são essenciais para os jornais manterem a estrutura com jornalistas espalhados por todo o país e pelas principais nações.

I. A crise dos jornais no Estados Unidos

O ano de 2008 despertou um sinal amarelo com as falências de alguns jornais centenários nos Estados Unidos. O jornal Rocky Mountain News, da cidade de Seattle (Washington) faliu após 150 anos de circulação. O The New York Times está vivendo em constante dívida. O jornal precisou vender parte do seu luxuoso prédio para quitar algumas pendências. Além disso, foi necessário pegar dinheiro emprestado com o homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slim, dono da Embratel no Brasil.

Reportagem do jornalista André Petry resume bem a crise dos jornais nos Estados Unidos:

O Cincinnati Post de 1881, fechou. O Philadelphia Inquirer, um dos vinte maiores jornais do país, com 180 anos de circulação, pediu concordata. A Tribune Company, que publica títulos como Los Angeles Times e Chicago Tribune, também pediu concordata. O histórico San Francisco Chronicle está à beira da morte. Se ele fechar, São Francisco será a primeira grande cidade americana a não ter um jornal local. O Seattle Post-Intelligencer, cujos repórteres eram confundidos no exterior com "agentes da CIA" devido ao "intelligencer" no nome do jornal, fechou sua versão impressa e agora só existe on-line. O Christian Science Monitor também encerrou sua operação em papel. Em San Diego, o San Diego Union-Tribune luta para sobreviver num ambiente inóspito: a cidade já conta com dois jornais virtuais e um deles, Voice of San Diego, não tem fins lucrativos. Vive de doações. O Boston Globe, do mesmo grupo do Times, está no abismo. Ou corta 20 milhões de despesas ou será vendido. Ou fechado. [1]

O único grande jornal americano que apresentou crescimento em 2009 foi o Wall Street Journal, com um aumento de 0,61%. Hoje, o Wall Street Journal pertence ao conglomerado News Corporation de Rupert Murdoch. O empresário Murdoch tem defendido a combrança de parte do conteúdo online dos jornais do grupo. Seguindo a mesma linha, alguns dos principais jornais do mundo aderiu ao modelo de cobrança do conteúdo mais analítico. Financial Times (Inglaterra), The Guardian,

II. Os jornais impressos no Brasil

Em 2009, no ano em que o PIB do Brasil cai 0,2%, a circulação dos jornais pagos caiu 3,46%, segundo estimativas da Associação Nacional de Jornais (ANJ). A Folha de S. Paulo manteve a liderança, de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC), com tiragem média de 296 mil exemplares. Entre os principais jornais do país, O Globo ocupa o segundo lugar com 257 mil exemplares. A circulação média de O Estado de S. Paulo no ano passado foi de 213 mil exemplares

CONCLUSÃO

Aos jornais, resta o talvez fundamental: a explicação do fato, a sua interpretação, a sua análise, os seus efeitos. Não se trata de fazer um jornal intelectualizado, para as elites, mas um jornal que, com linguagem acessível, possa com clareza dar ao leitor médio os desdobramentos das notícias. Tradicionalmente, pela extensão de sua cobertura, os jornais sempre informaram mais do que a televisão. Trata-se de radicalizar esta postura.

Ao pegar na manhã seguinte os jornais, os leitores já não querem ser informados dos fatos, porque já o foram na véspera; querem saber que efeitos eles provocam, que análise pode explicá-los, qual a correta interpretação, como se situar diante deles.
Fomos, afinal, treinados durante décadas para dar notícias e não tanto para analisá-las

Outro caminho que garantirá a sobrevivência dos jornais é menos a publicação do que chamo de acontecimentos, fatalmente noticiados mais rapidamente pela mídia eletrônica, e mais a produção de acontecimentos. Explico-me: todo esforço deve ser feito na busca de reportagens especiais, investigativas, que criem fatos, ou melhor, que os revelem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

[1] PETRY, André. Inferno na Torre do Times. Veja. São Paulo, p 90-93. Ed. 2110, 29 de abril de de 2009.

KAMEL, Ali.
Vida longa para os jornais impressos. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE JORNALISTAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, III. Anais. Lisboa, 1997. Observatória da Imprensa: São Paulo, 2005. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/cadernos/do2005b2.htm > Acesso em: 11 abril de 2010.

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