sábado, 13 de setembro de 2014

A falsa dualidade educação e capacidade de fazer democrático

 

Minha singela análise da entrevista da Exame (que adiciono no final do post) conforme comentei em uma publicação de um colega no Facebook:

Essa "professora" deve receber uma grana dos comunistas para defender a ditadura deles como meio caminho para uma democracia plena...ou seja, é uma questão de propaganda. Lastimavelmente, parcialmente, ela tem razão em um aspecto (atenção, não quer dizer que a China que ela defende esteja tentando evitar ou contornar o aspecto que irei destacar): o de que que um povo mal educado no que é, para que serve e quais são as obrigações e responsabilidades de um cidadão no processo democrático, tende a fazer mais mal do que bem a tal processo. Como? Simples: sendo ferramenta para destruí-lo a médio e longo prazo por meio de óbvias escolhas políticas danosas a manutenção do próprio sistema. Isso pode ser visto ao vivo e a cores na Venezuela. Por meio da vitória da maioria miserável e imediatista o caudilho Hugo Chávez alcançou-se ao poder e eleição após eleição, de populismo em populismo, de ato em ato contra a democracia representativa e em favor da plebiscitária (ou seja, direta) ele destruiu as instituições governamentais do país, desmontou a economia, trouxe uma situação soviética de falta dos mais básicos produtos ao país e conseguiu tornar o maior exportador de petróleo da América Latina em um importador deste mesmo produto (e não, os poços deles não secaram).

A questão a ser enunciada é politicamente incorreta em tempos demagógicos em que se eleva a miséria, a estupidez e a bronquidão dos iletrados ao status de "pureza natural acima de qualquer crítica", mas não me furto a grifá-la: infelizmente os pobres e miseráveis, até mesmo por sua condição de extrema necessidade (e cultura imediatista por força da realidade em que estão inseridos) raramente possuem preparo filosófico para entender que a escolha pelo caminho fácil (a troca de seu voto por um benefício imediato, seja uma dentadura, uma "garantia" de manutenção de um cartão do Bolsa-Família, um sapato etc, em favor de um populista) é garantia de mais miséria, sofrimento e dor no futuro. Ou seja, a democracia deve ser um direito de todos, mas seria saudável que todos para ela estivessem minimamente preparados.

O que a chinesa está tentando dizer em sua entrevista é que os "iluminados" engenheiros sociais chineses (a mesma turminha que matou 60 milhões de inocentes de seu próprio povo na administração Mao e sei lá quantos desde então) estão limitando propositalmente a força das massas estúpidas. Isso pois elas irão vender a 'primogenitura por um prato de ervilhas'. Assim, estão optando por primeiro preparar intelectualmente o povo chinês via educação (letramento, faculdade etc) para que, só depois, ele possa exercer a cidadania. Nada mais mentiroso! Essa é só uma desculpa. Basta ver como a mulher tem uma visão distorcida da China e do próprio fazer democrático e se percebe que o que realmente acontece nestas paragens orientais é o maior, mais extenso e profundo programa de lavagem cerebral e doutrinamento ideológico pró-autoritarismo já visto em escala, complexidade e marketing em toda a história da humanidade. O 'discursinho' dessa hipócrita só serve para esconder que o que realmente garante a sobrevivência de uma democracia não tem nada a ver com a quantidade média de diplomas per capita de uma população e, sim, no nível de compreensão que esta mesma possui da natureza e funcionamento do processo democrático.

Inclusive, vale como exemplo de que não há relação direta entre "alto nível educacional" e "habilidade de fazer democrático" a atual tentativa de independência da Escócia do Reino Unido. Lá não há analfabetismo, a população é bem educada, bem alimentada, etc. Mas, mesmo assim, conduzida por nacionalistas de esquerda, estão prestes a se separar da Grã-Bretanha. Para que? Adivinhe: dar ainda mais força a um estado ingerente e mastodôntico, mesmo com todos os especialistas, entendidos e intelectuais não esquerdopatas do mundo apresentando em detalhes como isso é um suicido em escala estatal e institucional. É um clássico exemplo de povo bem educado (mesmo em um país desenvolvido) que, por ser mal versado no que é a democracia, está sendo usado para preparar o terreno para que ela seja solapada.

O Brasil, neste contexto, sofre com os mesmos problema da China tanto na 'esfera popular' (miseráveis que vendem seu voto), como na 'política' (políticos que usam os miseráveis para destruir a democracia em favor de seus interesses).

Oras! O que falta então a nosso país e que não nos permite ser um Estados Unidos do Hemisfério Sul (embora tenhamos tamanho, população e riquezas naturais equivalentes)? Respondo! É a falta uma história de luta pela liberdade como tiveram os americanos! Onde a democracia foi conquistada na bala e não em uma jogada oligárquica para tirar um Imperador que só pode ser acusado de uma coisa: ter dirigido o período de maior estabilidade constitucional, economia liberal e liberdade de imprensa que o país já viu.

A democracia, meus caros, (sinto informar) é para os democratas! E eles são raridade no Brasil e na China. A solução política de nosso país, acredite em mim, passa muito mais pelos bancos das Igrejas do que necessariamente pelas salas de aula. Hoje, o preparo do espírito brasileiro para entender o fazer democrático está muito mais realinhar nossa moral desviada pelo relativismo e refundar um ampla aceitação popular de noções cristãs básicas como:

- Sacrifique-se pelo próximo (ou seja, não seja imediatista e não venda seu voto ao custo do futuro dos outros);

- Não acredite em falsos profetas (ou seja, não compre Lulas, Dilmas, Getúlios Vargas etc como salvadores acima do bem, do mal e da crítica);

- Acredite que há SIM uma verdade e uma noção de certo e errado (ou seja, roubar é feio, mentir é ruim, enganar é inaceitável e vender o futuro de seus filhos é absolutamente nojento).

Afinal, de nada adianta saber como fazer inequações se não se entende o espírito de honestidade e coerência que são as fundações da democracia como o melhor sistema de governo já criado. Em suma, não temos uma história de heroísmo e sangue na luta pela democracia a nos ter forjado uma cultura democrática como nos EUA, por isso, nossa única opção de salvação esta na noção de que larga é a porta que conduz a perdição. Este último, um dos mais básicos preceitos ocidentais-cristãos e que está no DNA da verdadeira democracia.

 

A entrevista:

 

Para professora chinesa, Brasil teve democracia cedo demais

Em visita ao Brasil, Ann Lee acredita que é “irresponsável“ pedir para uma pessoa que trabalha 12 horas no campo votar para presidente

Ana Fuccia

Ann Lee, professora da NYU

Ann Lee, professora de economia e finanças da NYU (New York University)

São Paulo – A chinesa Ann Lee ganhou a atenção do mundo com a publicação em 2012 do best-seller “O que os Estados Unidos podem aprender com a China”.

Desde então, ela ganhou as páginas das grandes publicações internacionais e tem viajado o mundo destacando as lições deixadas por duas décadas de alto crescimento econômico que retiraram centenas de milhões de chineses da pobreza.

Recentemente, ela esteve em São Paulo para uma conferência sobre os BRICS. Questionada sobre o que a China poderia aprender com o Brasil, que também teve uma queda forte na taxa de pobreza, ela prefere citar "erros a serem evitados" – como ter institucionalizado a democracia “muito cedo”, na sua opinião.

Ann já foi aluna nas universidades de Berkeley, Princeton e Harvard e trabalhou em Wall Street com fundos de investimento. Atualmente, ela está de licença da Universidade de Pequim para dar aula na New York University (NYU).

Veja a seguir os principais trechos da conversa com EXAME:

EXAME.com - O que o Brasil pode aprender com a China?

Ann Lee - Que você precisa de lideres com visão de verdade. A China virou o que virou porque teve Deng Xiaoping no passado e tem hoje Xi Jinping, provavelmente o mais importante desde Xiaoping, e que pode fazer a China caminhar para outro modelo de crescimento. Olhando para outros países, você verá que líderes são um ingrediente poderoso.

EXAME.com - E o que a China pode aprender com o Brasil?

Ann Lee - A China pode aprender a evitar alguns dos erros que o Brasil cometeu. É problemático quando a democracia é institucionalizada muito cedo; se você olha para as nações que adiaram este processo, vê que elas foram capazes de alcançar padrões mais desenvolvidos muito rápido. Estou falando de Taiwan, Coreia do Sul, que eram governos autoritários como a China e só se tornaram democracias recentemente.

Se você pede para pessoas não educadas votarem em algo, elas não terão uma visão informada do mundo, e isso leva ao denominador comum mais baixo e políticos que não farão o melhor para o país. Depois que você tem educação de qualidade e infraestrutura, aí sim você esta pronto para a democracia.

EXAME.com - Mas o contrário também não é verdade, como mostram tantos países? Sem prestação de contas, você não tem incentivo para responder à pressão da população pelos melhores serviços, escolas e hospitais que você cita.

Ann Lee - Você precisa de prestação de contas, com certeza, e a China faz isso através de seus jornalistas. Eles podem falar sobre todo tipo de corrupção, o que vai para o Weibo (o Twitter chinês) e força uma resposta das autoridades, como mostra o exemplo do leite e a campanha anti-corrupção. É assim que eles respondem às demandas da população e são democráticos mesmo sem eleições, já que os jornalistas realizam esse trabalho de exposição.

EXAME.com - Mas há muita pressão sobre jornalistas estrangeiros, como no caso do New York Times, por exemplo,

Ann Lee - A China convida jornalistas estrangeiros, que não são permitidos em alguns outros países, e dá a eles vistos justamente porque acha importante deixar todo mundo em alerta. Eles só não gostam quando sentem que há alguma outra agenda, como derrubar o governo.

Você sabe que a CIA já tentou isso em países com o Chile, usando jornalistas para tirar a credibilidade de um líder. O balanço é complicado, mas a China está sendo mais responsiva com as redes sociais e tudo mais. Ela sabe que é impossível deixar todo mundo no escuro.

EXAME.com - Dizia-se que a China preferia ser deixada em paz ao invés de gastar capital politico com questões não prioritárias ou que não a afetam diretamente. Você acha que isso está mudando? A China está buscando um papel político maior?

Ann Lee - A China ainda é relutante em assumir um papel maior nas grandes questões porque ela sabe que se opinar demais, os EUA ficarão incomodados e tentarão se vingar. Eles dizem que a China precisa ser um ator responsável, fazer isso ou aquilo; bom, a China está trabalhando na ordem mundial que os EUA construíram. Ela nunca usou poder militar pra conseguir nada, só o comércio, porque acredita que não cabe a ela julgar o bom e o ruim. A China vai continuar alheia porque é contra seus valores dizer aos outros o que fazer e também porque ela não quer incomodar os EUA.

EXAME.com - Tanto os EUA quanto a China estavam felizes com seu arranjo econômico, mas agora a China já emergiu e quer virar um centro de inovação e não só plataforma de exportação. A relação azedou? A China é hoje competidora dos EUA e não só complemento?

Ann Lee - Certamente ainda se complementam, mas a China está agora competindo mais com os EUA porque ficou mais inovadora, investiu mais dinheiro em pesquisa e desenvolvimento e forma mais cientistas. A China está entrando nesses territórios que já não são exclusividade americana, e isso vai inevitavelmente tirar a participação de mercado de algumas empresas que se se beneficiaram da proteção em território local e agora já não conseguem competir.

Veja a Huawei, por exemplo, hoje muito mais competitiva que a Cisco e a Alcatel. Os americanos acham que a única maneira de parar a China é por sanções comerciais, processos na OMC e esse tipo de coisa porque não estão acompanhando o ritmo das mudanças.

EXAME.com - Em um relatório recente o FMI disse que a China precisa crescer um pouco menos, mas melhor. Isso é possível? O governo não precisa manter o ritmo de crescimento em níveis atuais para manter sua legitimidade?

Ann Lee - Eles querem fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Essa transição vai exigir novas habilidades; estávamos treinando as pessoas para serem engenheiros e não psicólogos ou relações públicas. Você precisa desenvolver essas áreas e isso leva tempo, além de trazer professores novos do resto do mundo, o que também demora. Mas o investimento não pára e o crescimento continuará relativamente alto, ainda que menor, enquanto o país caminha para uma economia mais baseada em consumo e serviços. 

EXAME.com - E uma abertura do sistema político, pode ocorrer no curto prazo?

Ann Lee - Não. A China ainda tem 500 milhões de pessoas na pobreza, e quando as pessoas trabalham 12 horas no campo, não tem tempo de estudar nem tem ideia sobre questões de economia ou política externa. Pedir para eles votarem para presidente seria como pedir a uma criança de 5 anos; você não pode, é irresponsável. Até que possamos assegurar um certo nível de educação e de qualidade nas instituições, a China não estará preparada para a democracia, e isso não vai ocorrer em um futuro próximo.

EXAME.com - Só em algumas décadas?

Ann Lee - Pelo menos. 

Link para texto no site da Exame: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/para-professora-chinesa-brasil-teve-democracia-cedo-demais

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